De
tantas vezes a lermos, a pergunta soará, porventura, banal e já lhe não
ligaremos grande importância. No entanto, a mesma pergunta feita, quase à queima-roupa,
pelo marido ou pela namorada ou, simplesmente, pelo amigo, é capaz de, amiúde,
nos deixar perplexos, atrapalhados e… a ela tenhamos maquinalmente respondido:
–
Nada! Não estava a pensar em nada de especial!
Claro:
não é possível não estar a pensar em nada! E das duas uma: ou não queremos
partilhar o pensamento ou, apanhados de surpresa, não conseguimos consciencializar
de imediato e verbalizar aquilo em que se nos iam os pensamentos… E talvez
valesse a pena o esforço!
Duas
notas, há pois, a sublinhar desde já:
1ª
– O pensamento é o nosso lugar secreto, o único completamente nosso; só entra
nesse jardim quem nós quisermos. E podemos optar por orquídeas ou cardos espinhosos
… Por isso escreveu Emmet Fox: «Tudo o que nos acontece na vida não é, em realidade,
senão a expressão do nosso pensar». (Le Sermon
sur la Montagne, Paris, 1974, p. 18-19).
2ª
– Será que não conseguimos dominar o que pensamos? E nos deixamos levar como
que ao sabor do vento, desaproveitando momentos que não voltarão mais?
E,
de repente, surgiram-me outras cenas em idêntico cenário de inoportuna indefinição :
–
Mas o que é que gostaria mesmo de fazer? – pergunta o técnico do Departamento
de Pessoal ao candidato.
–
Qualquer coisa me serve!...
–
E o que é que te apetece comer hoje? Tens aí a lista.
–
Qualquer coisa me serve. E tu, que vais escolher?
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 679, 15-02-2016, p. 12.
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