Este um tema que
me é muito querido, o das agendas culturais municipais.
Creio
que, na actualidade, todos os municípios fazem questão em anunciar os eventos
culturais que programaram para o mês. Raros são, porém, os que se mantêm fiéis
à agenda cultural em papel, destinada a entrega porta a porta ou à colocação em
sítios estratégicos aonde a população saiba que pode acorrer para se inteirar do
que, no domínio dos concertos musicais, das exposições de arte, das conferências,
lhe é proposto.
Isto
porque, na maioria dos nossos concelhos (felizmente!), as necessidades
fundamentais dos habitantes – o abastecimento de água e de electricidade, o saneamento
básico… – estão satisfeitas, ainda que, por exemplo, a questão da água continue
a ser sempre um dos problemas maiores.
Por
conseguinte, a Cultura começou paulatinamente a ocupar o lugar proeminente que
lhe compete nas preocupações dos eleitos locais. Boa parte, no entanto, está a
optar pela agenda virtual, na presunção de que toda a gente tem acesso à
Internet e dispõe de computador e sabe mexer nele, o que, em relação à população
rural nomeadamente, não corresponde à realidade
Saúde-se,
além disso, o facto de a agenda não servir apenas para dar conta do que se programou,
mas ser também veículo para consolidar comunidade, por dar a conhecer o que é tradicional,
típico e digno de apreço.
Tenho presente o nº 26 de «Adufe», a revista cultural de Idanha-a-Nova, referente ao ano de 2018, redigida em português e em inglês.
Aí
se fala de Idanha-a-Velha, e vetusta cidade que os Romanos nos legaram, mas o
texto «são raízes do mesmo chão, entre o céu e a terra que os viu nascer» –faz-nos
penetrar, inclusive com elucidativas fotografias, num mundo cada vez mais
afastado do nosso dia-a-dia, as plantas com que a Natureza nos brinda: a
acelga, a fava, a mostarda, a alabaça, a urtiga… E houve «mãos de lã» que
vestiram troncos de árvore. E personalidades – como Filipe Faria e João Paulo
Janeiro – que se deixaram enamorar pelo interior e largaram o bulício urbano. E
conta-se, não sem mágoa, como a abetarda, o cortiçol, o sisão, o grou, o
peneireiro das torres, o falcão abelheiro, o rolieiro e o falcão peregrino, todas
elas «aves muito vistosas» ligadas às culturas cerealíferas, «bateram asas… e
voaram», porque essas culturas deixaram de existir!...
Fica-nos
um nó na garganta, quiçá, ao sabê-lo; agrada-nos, porém, pensar que, um dia,
talvez regressem; e, sobretudo, agrada-nos que um Municipio nos sirva essa consciencialização,
numa agenda cultural em papel!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 763, 2019-10-15, p. 11.
O Sr.Presidente de Cascais diz depois de inquirido por mim "que só 10% da dos munícipes não acedem à dita Net. Que fazer?
ResponderEliminarEsperar que morram esses 10%...
Bem haja Prof. sei que também luta pelo regresso da nossa Agenda Cultural em PAPEL
Maria Helena
Helena Ventura Pereira
ResponderEliminarQue bom que essa revista de São Brás se ocupe de temas tão actuais como a necessidade de ocupar as pessoas mais idosas.
Ana Teresa
ResponderEliminarBem hajam esses municípios pequenos do interior, que tudo fazem para manter vivas as tradições, até pela edição em papel, que pode chegar "ÀS MÃOS" de todos, literalmente, e olha verdadeiramente pela população e não na mira só do turista.