Cativa-nos e ficamos mui solidários, ao ouvirmos, nas notícias, que um punhado de voluntários e mesmo soldados não descansou enquanto não conseguiram retirar do 3º andar daquela casa semidestruída por um míssil o gatinho da família ora completamente desalojada.
Sensibiliza-nos
– e bem o compreendemos – que o sem-abrigo haja escolhido para companhia aquele
cão que dorme serenamente a seu lado e nunca o larga; com ele partilhe, em
primeiro lugar, o magro naco de pão que o passante lhe deu.
Sorrimos,
satisfeitos, ao ver que o urso, um dia salvo da morte, salte de júbilo para os
braços de quem dele cuidou.
Continuamos a emocionar-nos
com o cão que, diariamente, vai deitar-se junto à campa onde sabe que lhe sepultaram
o dono. Aí, longos meses passados, também ele acabou por morrer.
Agrada-nos ver
os biquinhos amarelos bem abertos das crias daquele casal de melros, no ninho,
cabecinhas no ar, ao sentirem a aproximação da mãe ou do pai que lhes trazem o apetitoso
cibo.
Encanta-nos
saber que, pela manhãzinha, aquele casal de rolas bate à janela da Fernanda e não
descansa enquanto ela lhe não deita umas migalhas. E o gato, mal a sente levantar-se,
corre para a casa-de-banho, porque não dispensa, ronronando, a sua terna
escovadela matinal.
Aconchegamo-nos perto da lareira, à noite; vem ter connosco o cão e deita-se-nos ao pés, não sem antes nos solicitar uma carícia na cabeça; e o gato olha-nos, em ar interrogativo: «Quero ronronar no teu colo; posso?».
Quando regressa
ao grupo, após uma ida em busca de alimento ou simplesmente para vadiar, o
macaco chega-se ao patriarca, deita-se-lhe ao pé e ali fica sossegado, enquanto
é espiolhado, a ver se traz bichinho perigoso agarrado à pelagem.
Não é raro
ouvir-se da boca de alguém, mesmo já entrado na idade:
– De que mais
me lembro da minha infância? De quando a minha mãe, o meu pai ou algum dos meus
avós me pegavam ao colo, me acariciavam os cabelos e eu assim ficava enlevado;
por vezes, adormecia. Assim como agora, mal comparado, o meu cão adora descansar
a cabeça na minha mão…
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 315, 20-02-2023, p. 13.
Sem comentários:
Enviar um comentário