Minuciosamente,
acocorado, o Nuno arrancava, um a um, os pés de relva sãos, para os
transplantar depois nas chagas que o vírus americano lhe provocara no relvado, como
em muitos do Algarve e da Grande Lisboa. Uma praga sem antídoto à vista!
E
dei comigo a pensar na palavra «raízes».
Palavra
que todos os dias me soa:
– É este vaso
cheio de raízes e já nem terra quase tem.
– São as raízes
fortes destas árvores que levantam as pedras da calçada.
– É a guerra a
destruir, impune, ancestrais monumentos que os povos consideram suas raízes.
– São as gentes
daquela freguesia que, por via de desenraizado decreto de Lisboa, gizado em obscuro
gabinete economicista, protestam contra a forçada união com uma outra, nada
consentânea com as suas raízes tradicionais.
– É a raiz de
alteia: «Devias tomar chá de alteia, homem, que te aliviava essa tosse!»…
Luta
o Nuno contra as raízes daninhas do seu relvado. Luta a Maria contra o basto raizame do seu vaso de gerânios. Lutam
os homens do Património Cultural para que, cegamente, se não destruam as raízes
antigas. Lutam os técnicos das autarquias para que se revitalizem e se não
deixem estiolar as fecundas raízes da Tradição. Ai, senhores, esta Quinta-feira
da Espiga! – saudades!
José
d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 318, 20-05-2023, p. 13.
Raízes é uma palavra que me é muito cara. E quando li que, sob a terra, as raízes das árvores próximas e distantes se dão as mãos numa internet de afagos, fiquei a pensar quantas lições podíamos receber da Natureza.
ResponderEliminarÉ raro uma árvore durar pouco, a menos que mão criminosa se ocupe dessa função. Mas se assim for, quase sempre ela renasce para a vida, talvez porque as raízes, suas ou emprestadas, lá ficaram.
Noite feliz e muito grata pela partilha destes textos, estimado José d´Encarnação.