A
frase não é minha e cheguei a ela depois de ter recebido o excerto de um artigo
de Christophe Clavé, autor que eu também
desconhecia, que começa assim:
“O QI médio da
população mundial, que sempre aumentou desde o pós-guerra até ao final dos anos
90, diminuiu nos últimos vinte anos. É a inversão do efeito Flynn”.
Fui ver quem era Christophe Clavé. Nascido em 1968, um
dos seus livros mais conhecidos é «Les voies de la stratégie», que não trata dos meios
para uma estratégia militar ou económica, mas de uma outra, muito mais complexa
e sorrateira: a do empobrecimento da linguagem.
Também fui saber de James Flynn, psicólogo americano que, ao
escrever, em 1982, o livro «A era da burrice», demonstrou haver um
«aumento sistemático e progressivo dos resultados nos testes de inteligência».
A isso se chamou o efeito de Flynn. Explica-se: o normal seria que, devido às novas
potencialidades tecnológicas, o quociente médio de inteligência da população aumentasse, pelo que os testes à
inteligência careciam de ser
periodicamente reavaliados, para os seus resultados serem credíveis. Ora, o que ora se verifica é que se está a ir, como diz o Povo, «de cavalo para burro». Esta,
a referida ‘inversão do efeito Flynn’.
Daí o
progressivo empobrecimento da linguagem, desejado pelos potentados que
pretendem governar o mundo, aniquilando a diversidade. O erro que Mark
Bauerlein, escalpelizou no livro The Dumbest Generation, «A Geração Mais Burra»
(2008), de subtítulo bem sintomático: «Como a era digital estupidifica os
jovens americanos e põe em risco o nosso futuro». Hoje, as crianças de 7 ou 8
anos crescem de telemóvel na mão, quando deviam começar a ler livros!...
Agora
compreendo porque é que, quando eu escrevo «dera atenção», a escrita
inteligente me corrige para «será atenção». O pretérito mais-que-perfeito é
areia de mais para o algoritmo! E porque é que Alice Marques me disse: «Tu usas
formas verbais que já ninguém usa!».
Aí está:
quanto menos tu dominares a linguagem, mais facilmente nós te dominaremos a ti!
Daí a urgente necessidade de dar apoio aos falares locais e ao estudo cada vez
mais afincado da língua materna.
Contra os
canhões da uniformização, lutar, lutar! E nessa luta ninguém – ninguém! – está dispensado de aprender a saber disparar
os canhões!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 850, 1-09-2023, p. 10.
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