quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Bloqueado!

            A toda a hora, em todo o sítio, a pergunta, agora, sacrossanta:
Já tem a nossa AP? Dá-lhe a vantagem…
Caso a todas as sugestões acedêssemos, teríamos o telemóvel pejado de… vantagens (!), a usar de vez em quando, e sobrecarregado até mais não, diminuindo a sua capacidade de resposta. Enfim, cada qual sabe de si.
Eu sei o que passei quando, para instalar uma AP considerada imprescindível, não consegui aceder, à 3ª tentativa, a uma palavra-passe que não chegou: o telemóvel bloqueou.
Fui à loja da marca.
– Nada posso fazer. Tem de ir a…
E foi-me dado o contacto duma empresa privada e privativa da marca, a uns 25 km de casa.
Quando chegou a minha vez:
– O recibo da compra, por favor!
Não tinha. Na loja não me haviam dito que era preciso e, na verdade, comprado há mais de 6 anos, do recibo eu já não tinha a menor ideia se o guardara.
– Nada feito, então.
– Perdão. Que quer dizer?
– Isso mesmo: nada feito.
– Ou seja, vou deitar fora o aparelho!
– Não lhe disse isso, só que sem recibo não há nada a fazer.
– Mas… não me poderá sugerir uma solução?
De poucas palavras, a senhora manteve-se hermética, a política de protecção de dados tinha de respeitar-se, uma questão de ética, nada a fazer…
Ia já levantar-me, vencido, quando o senhor a ser atendido ao lado pediu desculpa por intervir:
– Vá ao centro comercial X e tem lá quem o consegue desenrascar.

Fui.

Todo um corredor de lojas de indianos me abriu os braços. Fiquei sem dados, mas salvei o telemóvel. E passei a detestar ainda mais essa história de palavra-passe para tudo e mais alguma coisa. Sobretudo aplicações.

                                                                                   José d’Encarnação

Publicado em Renascimento [Mangualde], nº 857, 15/12/2023, p. 10.

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