Ainda
me lembro. Quando alguém pregava uma partida, lá vinha a frase num riso:
–
Ah! Filho duma magana, o raio do homem!
Na
lojeca do centro de apoio ao turista em Castro Verde, não resisti e comprei o
doce Magana, com a promessa da menina de que era mesmo bom. E é: tem cacau, pedaços
de noz e, a barrar uma tosta, é de comer e chorar por mais!
Mas
tanto o doce como a lembrança dos tempos idos me levaram a procurar o
significado da palavra.
Explica o meu
velhinho dicionário do Augusto Moreno (tenho a 5ª edição, de 1948!...), que ‘magana’
é palavra usada para sugerir «mulher desenvolta e lasciva».
Vai mais longe
o do Cândido de Figueiredo (edição de 1978). Segundo ele, trata-se de um provincianismo
alentejano (é também algarvio, acrescento eu) e significa «mulher dissoluta». Deriva,
explica ele, da palavra «magano», que designava o negociante de escravos, o negociante
de animais. E que inda se usa na concepção de «mariola, indivíduo de baixa
origem», aplicando-se, em sentido figurado, a um «indivíduo travesso, ardiloso,
jovial, desenvolto, engraçado». Quanto à etimologia, pergunta se não terá vindo
do vocábulo latino «mango». De facto, essa palavra tem a forma «mangonem»,
donde veio manganão, mangar, palavras bem aproximadas do sentido brincalhão da expressão
«Ah! filho duma magana! Espera aí que já apanhas com o chinelo, sempre a gozar com
a gente!»
Ora, a palavra
latina «manga» tem o sentido original de «negociante que enfeita as
mercadorias para as vender por maior preço», negociante de escravos e, também, polidor
de pedras preciosas. Tudo na mesma onda: a da trapacice!
O Dicionário
da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa, não deixando de
assinalar, como desusado, ‘negreiro’, afina pelo mesmo diapasão:
1) jovial, desenvolta, namoradeira; 2) que é
lasciva, dissoluta. E aponta como origem o castelhano «magaña».
Decidi ir mais
longe e fui ao grego: «magganeía» é, nessa língua, astúcia, sortilégio, encanto,
magia!
E não é mesmo um
encanto a gente embrenhar-se por estas florestas da Língua?
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 327, 20-02-2024, p. 13.
Julia Fernandes
ResponderEliminarÉ verdade, Zé! Há muitas palavras que estão a desaparecer por falta de uso. A minha mãe gostava de muitas, talvez por ouvi-las às velhotas da família que tinham ainda uma memória viva da origem algarvia das famílias que se estabeleceram em Alcochete. "Magana" era uma das suas preferidas como sinónimo de "malandra".
.....
É mesmo esse o significado primordial e mais corrente. Bem hajas, Maria Júlia, pela achega nesta labuta de não deixar o que é lidimamente nosso!
É sempre um gosto ler estas "Notas & Comentários"
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