De vez em quando, voltamos a receber
aquele vídeo a recordar-nos que, perante a imensidão do Universo, a Terra não
passa de um pontinho e, nela, cada país mal se distingue, cada concelho
inexiste e cada ser humano fica reduzido a ínfima e mui invisível partícula.
Apesar
dessa panorâmica a consciencializar-nos do nada que somos, hemos por bem
considerar que, mesmo assim, minúsculos, temos vontade, temos dotes, fomos
criados para cumprir no planeta Terra uma missão a não enjeitar.
A
cuidadosa elaboração da ‘carta patrimonial’ dum concelho pode lembrar-nos esse
vídeo, porque é mapa polvilhado de pontinhos. Também eles não passam disso, de
pontinhos. Evidenciam, contudo, algo a merecer atenção, porque representa uma
herança, uma memória, um grão apenas no seio de um imenso celeiro. Sabemos,
porém, que é de muitos grãos que o celeiro se enche; de muitos pontinhos desses
se entretece o variegado manto do que nossos antepassados legaram. Por isso, ao
conjunto desses pontinhos damos o nome de ‘património’, herança.
Numa
herança, sabe-se, conta o que tem valor material, passível de ser transacionado
com proveito palpável; conta igualmente – e não o conta de somenos – o que
detém o valor de memória não transacionável, porque nos pertence, a todos
pertence, é-nos muito próprio e nos distingue dos demais.
Tenho
acompanhado, ao longo dos últimos meses, a actividade insana do Dr. José Carlos
Santos. Não calcorreei com ele veredas, montes e vales; mas foi seu desejo que
eu pudesse estar sempre na retaguarda e com ele fizesse equipa. Agradou-me a
companhia – como sempre agrada, e doutro modo não poderia ser, a companhia de
um antigo aluno diligente que procura pôr em prática os ensinamentos que o
mestre lhe procurou inocular.
Apressámo-nos
a dar público conhecimento do que se ia encontrando, até para alertar e para
colher outras informações preciosas. Não demos por mal empregado o nosso tempo;
não damos por mal empregado esse calcorrear e esse contacto com eloquentes
pormenores amiúde longamente ignorados.
O
resultado aí está – qual suculenta romã com que o saber e o entusiasmo e o
incansável dinamismo do Dr. José Carlos Santos nos quis presentear para,
aberta, a podermos saborear!
Publicado em SANTOS (José Carlos), Carta Patrimonial do Concelho de Armamar, C. M. de Armamar, 2024, p. 11-12.
José d’Encarnação
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