Há,
com muita frequência, a ideia de que promover a classificação de um sítio ou
monumento como de «interesse público» ou «de interesse nacional» ou, mesmo,
como «monumento nacional» constitui a forma mais adequada e certeira de esse
sítio ou edifício virem a ser, de facto, mais bem preservados e até venham a
obter-se para o efeito, alguns desses fundos largamente publicitados e nem
sempre aplicados (pensa-se!...) por não haver espírito de iniciativa.
Errado!
Primeiro,
porque o caminho até à classificação é mais longo que a légua da Póvoa; depois,
porque, classificação conseguida, mais longo ainda é o caminho para se lograr
obter algum proveito.
Na verdade,
importa não esquecer que as várias secções dum ministério – qualquer que ele
seja! – estão atafulhadas de processos até ao tecto e as secretárias, se não
estão vazias por falta de pessoal, têm lá um senhor ou uma senhora postados
diante de uma rima de processos que não sabem por onde é que hão de começar!
Depois,
há a legislação! Decretos, portarias, despachos, complementos a despachos, decretos
regulamentares… Alto, que ‘decretos regulamentares’ é o que menos há e, sem
eles, as determinações do decreto correspondente não se conseguem concretizar.
Uma floresta virgem ou um velho castelo cheio de alçapões e portas estreitas e
portas disfarçadas em paredes…
Conclusão:
não caia na esparrela, não proponha a classificação de coisa nenhuma.
Dou
dois exemplos das centenas que poderiam aduzir-se e estou certo que cada um de
nós é conhecedor de dois ou três casos.
Uma colega
minha herdou um mosteiro; caiu na asneira de propor a sua classificação, na esperança
de que o Estado corroboraria na sua preservação. Errou! Nem o Estado corrobora
nem ela pode mexer uma palha sem colher pareceres e mais pareceres dos técnicos
ministeriais. Sim, daqueles que têm a tal rima de processos à frente. E o
mosteiro vai-se arruinando. E a minha colega a perder a esperança.
Em Cascais,
também alguém sugeriu a classificação do parque envolvente do Museu Verdades de
Faria. Conseguiu. Agora o que a Câmara não consegue é que o Ministério do
Ambiente gize um plano (sim, têm que ser os técnicos do Ministério a gizar!)
para acudir às muitas mazelas há anos ali acumuladas. O presidente da autarquia
já ameaçou e ele é bem capaz disso: «Demoram? Eu arrisco!». Abençoado!
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 329, 20-04-2024, p. 13.
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