É
o caso de Quintandona, na freguesia de Lagares, Penafiel. Belmiro Barbosa foi presidente
da freguesia durante mais de 30 anos e teve como uma das principais
preocupações manter a identidade local, nomeadamente não permitindo novas
construções e facilitando a reconstrução das casas existentes, mantendo a
antiga traça e utilizando os materiais tradicionais (a pedra à vista, por
exemplo).
O
resultado está patente, por exemplo, em Quintandona, uma aldeia hoje
ressuscitada com tudo o que lá era tradicional e onde apetece viver!
Tive
ocasião de lá jantar, na Casa da Viúva, num ambiente deveras familiar, no
passado dia 26 de Setembro, no âmbito do II Encontro de História e Património
do Museu Municipal de Penafiel.
Saboreei
a ‘sopa da avó’, acompanhada de broa de milho, pão de trigo e azeitonas miúdas
bem temperadas. Deliciei-me com um divinal bacalhau com broa na travessa em que
fora ao forno, e um arroz de carqueja de comer e chorar por mais. À sobremesa,
sopa seca, a «sobremesa» dos pobres, porque servia para aproveitar o pão duro, que
é assim como que uma espécie de rabanadas, mas feita com o pão de cacete com,
pelo menos, dois dias (o «pão dormido»…), cortado às ‘rodelas’… É de ver a receita na Internet,
para se compreender melhor! No final, um cafezinho de cevada, como há muito não
bebia e, a ‘rebater’, um cálice de… «mijo do jebo», que é como quem diz, um
bagacinho com virtudes mui específicas! O jebo, diga-se desde já, é personagem
principal da anual ‘Festa do Caldo’. A forma correcta de escrever é gebo;
recorde-se a obra O Gebo e a Sombra,
de Raul
Brandão, de 1923, que o génio imparável de Manoel de Oliveira
verteu para filme, estreado no Festival de Veneza de 2012.
Bem
andaram, pois, as autarquias penafidelenses (a freguesia de Lagares, com o
apoio da Câmara Municipal de Penafiel) em nos mimosearem com tão feliz promoção.
Quintandona
vai ser um pólo do galardoado Museu de Penafiel e a Doutora Teresa Soeiro
compendiou as linhas mestras do projecto no livro Quintandona – as muitas vidas de uma aldeia (1ª edição, Dezembro de
2013, ISBN: 978-989-95308-6-7).
Em
80 páginas, profusamente ilustradas, conta como «uma aldeia como as de antes»
(o lugar, a casa de habitação, os anexos e os equipamentos, os campos, a
gente), aceitou «despertar para o novo milénio» (a Festa do Caldo e da Música
Tradicional de Quintandona, a Associação CasaXiné e Centro Cultural, alojamento
e restauração).
Não
fiquei com os dados da Festa do Caldo deste ano. Faz-se em Setembro e começou
em 2007. Contou-me Belmiro Barbosa que, por exemplo, todo o espaço disponível
foi ocupado por tendas de campismo. Mas Teresa Soeiro dá conta (p. 71) da
estatística de 2012: 14 000 visitantes, 120 voluntários, 52 expositores (artesanato
e produtos locais), 33 espectáculos, 6000 tigelas de papas e caldos, 700 doses
de sopa seca, 15000 doses de feijoada, 11 porcos no espeto, 190 quilos de broa!…
É
obra! A mui calorosamente aplaudir e… a ir ver!
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