Casais
Velhos é um povoado romano, que prosperou pelo menos até ao século V da nossa
era, a crermos nas poucas numismas que por ali se encontraram e se conseguiram
recuperar. Classificado como imóvel de interesse público desde 25 de Junho de
1984, foi alvo de intervenções arqueológicas nomeadamente na década de 60 do
século passado. E se o escolhi para o incluir nesta série de locais de um
«Portugal desconhecido» foi porque, na verdade, o temos logrado manter nalgum
recato, ainda que se localize bem perto do Guincho, uma das zonas de praias
mais concorridas de Cascais.
Teve
muralha; alimentava-o um aqueduto, de que ainda há vestígios; seus habitantes
usufruíram de termas de águas quentes e frias… Contudo, o que mais impressionou
os arqueólogos foi o facto de, dentro de edifícios, haver estranhas tinas com
tampa que se diria hermética. O mistério parece, porém, que foi desvendado,
imagine-se, por se ter verificado, numa lixeira, abundância de concha s de purpura
haemastoma, búzio marinho donde,
macerado, se extrai a essência da púrpura, a cor dos mantos imperiais e das
amplas barras das togas dos senadores romanos.
Reza
milenar tradição que foram os Fenícios
os ‘inventores’ da púrpura. O achado dos Casais Velhos, por um lado, e o facto
de por aqui abundarem os carrascais, onde se desenvolve a cochonilha, também
ela fornecedora de adequada coloração
carmim para os tec idos, levam-nos a
pensar que – misturando ambos os produtos – os habitantes romanos dos Casais
Velhos sabiamente lograram obter não uma contrafacção
purpúrea mas algo que muito se assemelhava a esse requinte e que bastante mais
barato lhes ficava, pois então! E o oceano ali tão perto – por onde o produto
se poderia escoar!...
Publicado em Portugal-Post [Correio Luso-Hanseático] (Hamburgo), nº 56,
Novembro de 2014, p. 16, integrado num ‘caderno’ sobre «Portugal desconhecido».
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