Todos o sentimos,
no metro, no comboio, no autocarro, à mesa, no sofá… Já não há conversas ao
vivo. Há-as, sim, mas através de uns aparelhozinhos onde se passa com o dedo
para cima, para baixo, para o lado… Outro dia, até demos com o nosso neto de
dois anos a querer passar com o dedo as imagens da televisão !…
‘Vivemos’ com o mundo, com o Brasil, Paris, Londres, mas… esquecemo-nos de
viver com os que estão ao nosso lado.
Vêm
estas considerações a propósito do que se vê a todo o momento, sim; no entanto,
o pretexto maior é o que, decerto, bastantes de nós já receberam de amigos (e
podem ver-se na Internet): os instantâneos colhidos nas ruas de Londres pelo fotógrafo
londrino, Babycakes Romero, um deveras
eloquente conjunto a que deu o significat ivo
nome de "The Death of Conversation”, «a morte da conversação ». Inclusive, um par de namorados, de braço dado,
está cada um profundamente embrenhado nas imagens do seu smartphone! É caso para garantir: «Já não se namora como dantes!».
Outrora, acendia-se um cigarro para entabular uma conversação , diz Babycakes Romero; hoje, liga-se o smartphone para acabar com ela!
Já é usual a «quentinha»
Quando, em Outubro
de 1989, estivemos, pela primeira vez, no Rio de Janeiro, admirámo-nos do
hábito, já então aí vigente, de nos proporem, no final da refeição , se queríamos levar o que não comêramos do prato
servido. Já tinham mesmo tudo programado, a «quentinha», como lhe chamavam, o
recipiente de folha de alumínio, que hoje é banal em qualquer pronto-a-comer.
Aproveitávamos habitualmente, pois o que sobejara do jantar dava para o almoço
do dia seguinte, a não ser que topássemos pelo caminho de regresso ao
apartamento com um sem-abrigo deveras
necessitado.
Estamos,
pois, muito contentes por verificarmos que se torna cada vez mais essa uma
prática corrente nos nossos restaurantes, onde, até há pouco, a comida que
sobrava ia para o caldeirão dos restos, para o lixo, nem sequer servia, como
nas décadas de 50 e 60, de lavadura para os porcos; e singular legislação , a cumprir entusiasticamente pelos agentes da ASAE , proibia qualquer reaproveitamento.
Abençoada
«quentinha»!
Os pombos
Gostamos
deles. Sabemos que não podemos dar comida aos que enxameiam as cidades e cujas
fezes ácidas contribuem para deteriorar os monumentos. Sabemos que há um ditado
popular que reza «casa de pombos, casa de tombos» – para desagrado dos columbófilo s. Apreciamos, contudo, a sua fidelidade
conjugal e não nos cansamos de lhes admirar os rituais de sedução , mesmo que ‘casados’ há muito! Um exemplo!
Não
deixei, porém, de sorrir para aquele casal que se passeava como quem não quer
coisa numa das plataformas em serviço na estação
de Cascais, no começo da tarde de 18 de Junho. Assim que o comboio chegou de
Lisboa, abeiraram-se das portas e… foram sorrateiramente entrando, na mira de
migalhas por ali caídas. Nunca imaginara tamanha capaci dade
de «desenrascanço»! Abençoados!
Coreografias de grupo – uma experiência para o envelhecimento activo
Já
tive ensejo de me referia à actividade que Teresa Meira está
a desenvolver, com alunos dos 60 aos 86 anos, no Centro Eng.º Álvaro de Sousa,
no Estoril. Chama-se Coreografias de
Grupo (internacionalmente conhecida como Line Dance), tem
técnicas específicas para os seniores, com a finalidade de se exercitar o
cérebro ao nível da memória, ouvido, concentração
e coordenação com a equipa, ao mesmo
tempo que se dançam coreografias específicas, com músicas do “nosso tempo”,
resultando em benefícios visíveis a nível de saúde, quer quanto ao colesterol,
como muscular e ósseo.
Era
bom que mais instituições se consciencializassem da relevante importância de
uma actividade assim.
A relatividade do quotidiano
A
data para a celebração foi escolhida
tendo em conta as agendas dos vários intervenientes. Um bem alicia nte final de tarde de segunda-feira; mas…
pouca gente acorreu, apesar da divulgação
feita.
Hoje
em dia, porém, a gente pensa que uma data e uma hora são as ideais e logo se
lhe pranta em cima um aguaceiro, uma
crise política, uma decapitação , o
resultado de um referendo… E planeia-se um curso para adultos e pensa-se que o
melhor é em horário pós-laboral e, depois, é a turma de dia que mais gente tem,
porque pós-laboral há os putos para ir buscar à escola, a sopa para fazer, o farnel
a preparar para o dia seguinte, o episódio da telenovela…
Enfim,
também nisso já me habituei à relatividade extrema do quotidiano.
Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais,
nº 69, 12-11-2014, p. 6.
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