Bem no sei, o título não prima pela
originalidade, que já o senhor el-rei D. Duarte escreveu «A Arte de bem
Cavalgar Toda a Sela», que teve como título inicial O Livro da Ensinança de
Bem Cavalgar Toda Sela; o meu colega Cristóvão Pereira sabiamente dissertou
sobre a ortografia de língua portuguesa, definindo-a como «a arte de bem escrever ao longo dos
séculos» (Boletim de Estudos Clássicos, 55, 2011, p. 133-140»; e até a
senhora D. Margaret Thatcher redigiu um livro sobre «A Arte de bem
Governar» (não foi, decerto, por ele, que Donald Trump estudou…). E já que se
fala em estudar, um dos meus livros de cabeceira data de 1943, está muito
sublinhadinho desde a minha juventude, deve-se ao grande mestre Mário Gonçalves
Viana e chama-se «A Arte de
Estudar».
Tudo artes, portanto, que se
aprendem com o estudo e a experiência. Para se escrever nos jornais, também é
preciso arte, mormente porque o jornalista procura ser o mais aliciante
possível.
Vem tudo isto a propósito de uns
recortes que amigo meu me enviou, em ar de crítica ao pouco profissionalismo
neles patente. É bem provável que já corram mundo, com milhares de
visualizações. Achei-lhes piada, porque, no fundo, além da pressa em que se vive,
esses títulos demonstram a enorme capacidade que o português tem de pôr em
prática a máxima de que «a bom entendedor meia palavra basta». Ora veja-se:
«Morreram 430 mortos nas estradas
portuguesas» – título do Jornal de Notícias.
A 6 de Março de 2014, um diário
anunciava: «Carro capota com 4 pessoas e uma mulher».
Numa das legendas da CMTV, sempre em
directo e em primeiro: «Dois mortos em fuga». Esta, confesso, é um mimo, porque
resume às mil maravilhas o que era preciso explicar, se não fôssemos todos
inteligentes e não percebêssemos logo que houve um valdevinos que matou duas
pessoas e se pôs em fuga. Para legenda televisiva, era complexo e o pessoal não
tinha tempo para ler tudo!... Também a CMTV legendou doutra vez: «Acidente na
A1 Três viaturas feridas». E pronto!
José
d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 791, 15-01-2021,
p. 11.
Uma arte cada vez mais em desuso.
ResponderEliminarValha-nos a capacidade de sorrir com este texto tão oportuno e engraçado... Podíamos brincar ainda mais com o assunto, mas há um problema bem triste por detrás desta incapacidade de construir frases verosímeis: é a ganância, o lucro dos empregadores que preferem pagar a estagiários sem formação, em vez de contratar, pela justa remuneração, profissionais qualificados ou em via de o serem. Toda a gente perde com estas ocupações precárias, os que saltitam em busca de melhor futuro, e os órgãos de comunicação que ficam com o prestígio abalado.
ResponderEliminarCaro Professor, a profusão de mensagens abstrusas, em rodapé dos noticiários televisivos, é de nos fazer ir às lágrimas, na verdade. Calinadas escritas em concorrência, tanta vez, com as que vão sendo proferidas nos mesmos noticiários. Fica-nos a dúvida se tais profissionais não se terão guindado à formação superior naqueles cursos obtidos aos domingos... Grande abraço.
ResponderEliminar