O estudante, acabado o curso,
interrogava-me: «E agora, professor?». E eu perguntava-lhe o que ele queria
fazer na vida.
– Gerir uma sapataria?... Então,
começa a olhar para as lojas, lê tudo o que encontres sobre isso, interroga-te sobre
o que poderias melhorar, oferece-te para estagiar gratuitamente numa loja.
– Ser jornalista de cultura? Vai a
todos os eventos culturais que possas: inauguração de exposições, conferências,
concertos… Observa como se organizam, que documentação é dada, que aspectos são
deveras interessantes… Há uma recepção antes? Não hesites em pegar no teu copo
e, se adregar meteres conversa com alguém, não deixes de o fazer.. Serenamente,
faz-te conhecido, sem te pores, no entanto, em bicos de pés. E se aproveitares
para fazer uma nota de reportagem e enviares, como quem não quer a coisa, para
um jornal local?
– Queres ser arqueólogo? Então, lê
tudo o que puderes sobre esses temas, candidata-te a integrar uma equipa de
escavações…
Importante: não queiras assentar
praça em general, que os que hoje vês em lugares cimeiros passaram as passinhas
do Algarve para chegarem onde estão, salvo mui raras excepções! Sim, se for necessário
ires para caixa dum supermercado, vai, que não te caem os parentes na lama e já
viste a quantidade de pessoas que vão passar a contactar-te diariamente? Pode
muito bem ser que, entre essas, haja uma que goste da tua maneira de ser. E se
fores um bom caixa, se souberes sorrir, quem sabe?...
Um dos lugares mais importantes na
época romana eram as termas. Não fundamentalmente por as pessoas necessitarem
de tomar banhos, mas porque as termas tinham um espaço destinado à troca de
impressões e muitas das iniciativas, a todos os níveis, eram preparadas aí, pois
os Romanos sabiam unir o «otium» ao «negotium»!
Portanto, qual a razão do título
desta crónica aqui e agora?
Eu
explico.
É
que vamos entrar em campanha eleitoral para as autarquias. E, já que o não souberam
fazer no decurso do seu mandato, todos os já eleitos – e os que, porventura, sonham
em (re)candidatar-se – não deveriam, a meu ver, desaproveitar todas as ocasiões
para serem conhecidos. «A iniciativa é do partido que ganhou e eu não estou
para lhe dar brilho!» - Errado! Primeiro, porque a iniciativa é do Executivo e
não dum partido e, por sinal, até se integra na defesa do património, no fomento
do bem-estar dos munícipes – e não foi isso que tu também incluíste no teu programa
eleitoral? Depois, estando presente, melhor verificas o que corre bem e o que
corre menos bem e o que, se fores tu a programar, poderás vir a fazer melhor.
E vou ao fundo da questão que me
levou a este desabafo. Com toda a franqueza e não por ser a minha associação
uma das promotoras, com o Município, das cerimónias, que até correram bastante
bem (congratulo-me), evocativas de Camões. É que procurei, entre a multidão, os
eleitos pela «oposição» – e não os vi (com excepção da Junta de Freguesia de S.
Domingos de Rana, que sempre teve outra posição). Como habitualmente não estão (se
não erro) em outras iniciativas camarárias – e que, por serem ‘camarárias’, de
todos são, acho eu! A ver se a gente se entende!...
Lá diz o Povo: «Quem não aparece
esquece!».
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 335, 2021-06-23, p. 6.
Há uma perversa confusão entre ideologia e clubite que, em minha modesta opinião, não serve a ninguém ou, pelo menos, aos munícipes não serve. Mas será que estamos em presença da aplicação do provérbio segundo o qual «burro velho não toma andadura»? Ou vamos a tempo de que todos os eleitos, com mais ou menos votos, interiorizem e assumam que a «res publica» é muito mais do que um palco de vaidades e protagonismos?
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