Parece
palavra estranha, designadamente por não ser usada no dia a dia, embora os
eufemismos façam parte intrínseca do nosso quotidiano. Vem do grego: ‘eu’ é um
prefixo que significa ‘bem’; no corpo da palavra está implícita a noção de falar,
expressar-se. Nos dicionários, explica-se que se trata do «acto de suavizar certas
palavras ou ideias com outras mais agradáveis».
Tive
um mui diligente aluno alemão a quem procurei ensinar a língua portuguesa; com
êxito, diga-se desde já, não pela competência do professor mas, sim, pela extraordinária
dedicação do aluno. Imagine-se que, um dia, me propôs que tentássemos fazer a
lista das palavras ou expressões equivalentes a ‘fugir’ e a ‘estar bêbado»!
Pasmei! Um infinda caterva delas! Ora experimente lá, assim de repente, a
lembrar-se de seis ou sete! Vai ver que consegue num ápice. Surgiu-me uma, há
dias: «escafeder-se!»… Mas há tantas – que português é perito em… fugir a este
pés daquilo que lhe desagrada!
Muitas
usamos ao falar com os nossos bebés, nomeadamente em relação às ‘necessidades’
orgânicas, a que, na altura, se dá a maior atenção, pois nos queremos certificar
se todas as funções fundamentais da sua ‘máquina’ estão em ordem. Depois dos 70
anos, volta-se a essa meninice e não é de admirar se, um dia, encontramos o
papelinho onde, para não se escrever, um dos nossos anciãos escreveu «Fiz cocó
ontem, dia 17, às 10 horas» – que essa é uma das referidas funções de indispensável
monitorização.
Ocorreu-me,
a esse propósito, a palavra «obrar». Não
hesito em a incluir no rol dos eufemismos. Obrar, do verbo latino «operari», ‘executar
uma obra’, identifica, na circunstância, uma dessas ‘acções’ importantes do ser
humano. Não vou ao ponto de sugerir (seria de mau gosto, claro, embora não
deixe ser verdadeiramente imprescindível) que, entre as curiosas e oportunas frases
que ilustram os pacotinhos de açúcar – «Já sorriste hoje?», «Já disseste hoje
um bom piropo?», «Já abraçaste ternamente alguém?»?... – aparecesse, um dia,
estoutra: «Já obraste hoje?». Seria, de facto, de mau gosto, não o nego, à hora
de saborear o café; mas… não deixa de ser, por isso, uma das perguntas a diariamente
não esquecer!...
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 848, 15-07-2023, p. 10.
Não...não havia de aparecer essa pergunta tão íntima e inoportuna, num momento de descontrair...mas estamos a falar de coisas muitas sérias.
ResponderEliminarEssa pergunta do domínio privado, deve ser colocada às crianças desde cedo em local próprio, talvez à noite, para que fiquem com o organismo educado a "obrar" regularmente, evitando patologias futuras e surpresas desconfortáveis.
Creio que com essa regulação, a partir de um cartaz pequenino com a pergunta, até passam a fazer todas as obras da vida com maior rendimento...
Coisas MUITO sérias (3ª. linha do comentário anterior)
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