David Pedro
Inácio, canteiro, natural do Corotelo, onde nasceu a 29 de Abril de 1932, faleceu
no passado dia 3 de Janeiro. Residia em Cascais desde Agosto de 1945, para onde
foi praticamente pouco tempo depois de ter feito a 3ª classe. O pai viera já
antes para trabalhar nas pedreiras e foi com ele que aprendeu o ofício,
tradicional já na família.
Na breve biografia
que ele próprio redigiu para o seu primeiro livro de versos, Chamaste-me
Rouxinol, que a Associação Cultural de Cascais lhe publicou em 2008,
escreveu:
«Aprendi um ofício
muito penoso. No Verão, fazia muito calor; no Inverno, muito frio... Enfim, os
anos foram passando, com maior ou menor dificuldade. Fui casado, fui feliz».
A prematura morte da esposa, em 1998, terá
despertado nele não apenas a saudade da sua ausência, mas também, com ela, a
vontade de se exprimir em verso, decerto algo que lhe ia já na alma
corotelense. Ele o confessa:
«Nunca tinha
pensado em escrever poemas mas quis o destino que isso, um dia, acontecesse.
A história é
simples.
Foi num lindo dia
de Agosto de 2001, enquanto eu assobiava no jardim de uma grande amiga que
tenho, que ela, ao ouvir-me, me chamou rouxinol. Foi nesse momento que me
inspirei e daí nasceu a vontade de escrever o meu primeiro poema, ao qual dei o
título “Chamaste-me rouxinol”. Desde esse dia, não mais parei de escrever.
Alguns dos poemas que escrevi dediquei-os a ela e também a muitas amigas que
tenho. Todas autorizaram que eu publicasse os poemas que lhes dediquei; por
isso, para todas vai o meu muito obrigado e um abraço cheio de carinho. Bem
hajam!».
Passou os seus
últimos anos no centro de convívio da Associação dos Idosos de Santa Iria, em
Murches, e depois desse 1º livro, publicaram-se Na Cadeia dos Teus Braços
(Novembro de 2019) e A Árvore da Vida (Abril de 2022). Vem neste o poema
«Despedida», de que se transcreve esta quadra:
Bem longos anos de vida
Estou agradecido a Deus
Um abraço de despedida
Família e amigos meus
Apesar
de viver longe, jamais esqueceu a sua terra natal, que lhe mereceu bastantes
versos, de que ora se destacam estes:
Algarve
é a minha terra
Alportel
o meu concelho
Fica
à beirinha da serra
A
sul do Barranco Velho
Vou
escrever de certeza
E
o que eu escrevo é fiel
Para
oferecer à beleza
Que
é São Brás de Alportel.
Que
descanse em paz quem assim soube manter a tradição corotelense: o trabalho da
pedra associado ao gosto pelo versejar quase espontâneo, ao jeito do António
Aleixo.
José
d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 326, 20-01-2024, p. 13.
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Com o presidente da Junta de Freguesia de Alcabideche, no dia do lançamento do seu último livro
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Boa tarde primo! Um bem haja pela partilha. Um abracinho apertado
ResponderEliminarEstive em dois lançamentos de livros de David Pedro Inácio, não porque o conhecesse, mas por conhecer o então Presidente da Associação Cultural de Cascas, autor deste texto, e por lhe dever essa atenção.
ResponderEliminarTenho aqui os livros. Gosto de ler "poetas populares" designação que me habituei a dar a quem, como este Senhor, tinha o verso na ponta da caneta, ou o improviso fácil no espelho da memória.
Um dos grandes amigos do meu pai, por tê-lo sido já do meu avô paterno, almoçava em nossa casa aos domingos e no fim da sobremesa (leite-creme como sempre pedia) brindava-nos com mais um doce de poema.
Eu não gostava de sopa. Uma das suas frases para condenar a minha birra, era SEMPRE: menina "a sopinha é a tranca da barriga".
Nunca chegou a saber, nesse costume domingueiro de continuarmos a fazer poemas, como lhe dediquei umas quadras em tom jocoso sobre "a tranca da barriga".