Já são mais de 300 as crónicas que este jornal me
albergou e ainda não me interrogara sobre qual o motivo porque lhe terão dado
esse nome. Constará das crónicas; estará, eventualmente, explicado no editorial
do 1º número. Prefiro, todavia, atribuir-lhe eu uma razão, passível – ou não –
de acertar no prognóstico.
Explico-me.
Nas
pausas da escrita, deambulo pelo jardim e admiro o evoluir das plantas e,
sobretudo, das flores: ontem, era botão, hoje desabrochou; ontem, ostentava as
pétalas ao vento num chamariz de insectos para os estames gulosos, hoje está
com vontade de me dizer que o seu ciclo vistoso por ora acabou. Mal a
luminosidade dá em diminuir há pétalas que se recolhem, como pestanas a
proteger a visão, há folhinhas que se encostam umas às outras, num acoitar
protector…
Muito
me apraz saudar, pelos finais de Maio, a cycas revoluta, nome científico
de uma palmeirinha anã, de jeito pré-histórico, qual bonsai. O nome comum é
sagu-de-jardim. Do tronco lhe saem compridas folhas, alargando-se em pavoneante
copa. E por esses finais de Maio, chama-me: é que o meio do tronco se prepara
para eclodir e, mui suavemente, em movimento lentíssimo e imperceptível, as folhinhas
muito chegadas unas às outras, protegidas por um manto de penugem (dir-se-ia),
vão crescendo e desprendendo-se. Fotógrafos especialistas da vegetação decerto
já puseram uma câmara ao pé para, no decorrer dos dias, a objectiva ir
disparando e proporcionando, assim, a visão acabada do que é, a meu ver, uma
verdadeira maravilha. Semanas após semanas, até o verde viçoso se espreguiçar
em leque.
Daí
me surgiu a palavra. «Renascimento», para título de jornal regional, é auspício
e é programa de luta:
– auspício,
por cada número veicular notícia de iniciativas inovadoras, vontade de
renovação dinâmica;
– programa de
luta, porque há que espicaçar os menos audazes, sugerir outros caminhos,
apontar metas, sacudir da modorra em que amiúde há a tentação de se ficar.
A carruagem
está em andamento? Deixemo-la ir, que a inércia se encarregará do empurrão. Não
é verdade: o movimento da inércia não é, como poderia pensar-se, mais veloz à
medida que se aproxima do fim: vai adormecendo, adormecendo. E esse adormir já
não interessa a ninguém.
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 866, Junho de 2024, p. 10.
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