sexta-feira, 11 de maio de 2012

Andarilhanças 47

Estreia
      Constituiu «evento colunável» a estreia, a 23 de Abril, da peça do Teatro Experimental de Cascais. São sempre «eventos» as estreias; mas esta tê-lo-á sido muito especial, reclamada pelo regresso de António Pedro Cerdeira, actor bem conhecido dos telespectadores. Muitos foram, pois, os actores (mormente de telenovelas) que marcaram presença e os flaches dos fotógrafos não pararam até segundos antes de o pano subir; e, no intervalo, entrevistas não faltaram, claro! Eunice Muñoz foi também presença a assinalar.

Casais Velhos revisitados
No âmbito do seu programa de dar a conhecer as particularidades e o património do lugar onde vivem, a AMA – Associação de Moradores da Areia organizou, na tarde do passado dia 29, uma caminhada até ao povoado romano dos Casais Velhos.
      Inscreveram-se cerca de 120 moradores, que, conduzidos por José d’Encarnação (da Associação Cultural de Cascais), se inteiraram, logo no adro da capela de S. Brás, da antiguidade do lugar, quer pelos vestígios que iriam ver de seguida quer porque há notícias sobre a Areia ao longo dos séculos e constava o lugar dos pontos de referência anotados pelo Automóvel Clube de Portugal em meados do século passado, como o atesta a placa inserida na parede sul da capela.
      A caminhada fez-se pelo interior oriental da povoação, de modo que pôde apreciar-se a vegetação autóctone, assim como os típicos muros de pedra seca a dividir as propriedades agrícolas.

      Em pleno povoado romano, que teve ocupação documentada nos séculos IV e V da nossa era, José d’Encarnação fez a história das investigações arqueológicas ali levadas a efeito em 1945 e em 1968, explicando o significado e função de cada uma das estruturas postas a descoberto: o sistema de defesa amuralhado, o aqueduto, o complexo termal, as sepulturas, detendo-se, de modo especial, no conjunto de construções ligado ao que se supõe ter sido destinado à preparação da púrpura.

      Já no regresso, foi possível mostrar, no corte do terreno que ladeia a estrada, elementos arquitectónicos avulsos, a exemplificar as características que permitem identificá-los como romanos.
      A caminhada durou pouco mais de duas horas e terminou com um chá servido na esplanada do Centro Interpretativo da Crismina.

Canteiros confraternizam
      A manter a tradição cascalense de «atacar o Maio» com uma boa caldeirada, um grupo de canteiros de S. Domingos de Rana reuniu-se de novo, este ano, no dia 1, em Trajouce.
      Recordaram-se as técnicas do «tratar a pedra por tu»; viu-se, por exemplo, como funcionava a cruzeta,   instrumento usado em escultura para ‘tirar os pontos’, ou seja, para o canteiro mudar para a dimensão requerida o que o escultor lhe entregara em molde… Terminou-se, após a tradicional fotografia de grupo, no Museu do Caracol, que ora se dedica a fazer miniaturas, em madeira, de utensílios tradicionais do dia-a-dia saloio.
(Fotografias de Guilherme Cardoso. Foi Celestino Costa quem demonstrou como se usava a cruzeta).
Egoísta
      Numa época em que escrever cartas parece que já passou de moda – hoje já só se mandam frios e-mails e mui sintéticos sms, o nº 48 (Março 2012) de Egoísta, a revista trimestral da Estoril-Sol, vem recordar-nos o papel fundamental que o correio detém no nosso quotidiano, mormente a nível pessoal. Caso raro é, hoje, uma carta escrita à mão e valerá, decerto, a pena apostar em regressar a esses hábitos:
      «Só uma carta manuscrita pode transportar a mancha de uma lágrima. O odor de uma tinta perfumada, o hesitante vestígio de uma palavra corrigida, a marca de um anseio que nos escapa da alma e escorre pelo papel para ganhar vida própria só entre dois partilhada» – escreve Mário Assis Ferreira. E tem razão – oh se tem!
      Parabéns, pois, por mais esta… surpresa (que é sempre uma surpresa cada número da Egoísta!).

Acreditar
      Boletim da Associação de Pais e Amigos de Crianças com Cancro [www.acreditar.org.pt], o nº de Março traz, para além do noticiário acerca das actividades da Associação (um exemplo sempre de grande e emotiva solidariedade!). Tem o leitor ideia, por exemplo, do que são os Barnabés? São as crianças, jovens e adultos que na sua infância vivem ou viveram uma doença oncológica – e eles próprios se tornam, depois, arautos de uma esperança que nunca pode morrer!
      Como se escreve logo no início da 1ª página (das 4 que compõem o boletim): «Pedras no caminho? Guardo-as todas. Um dia vou construir um castelo!».

[Publicado no Jornal de Cascais, nº 313, 09.05.2012, p. 4].




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