Assim o Poeta: senta-se no seu colo,
todos os sentidos bem despertos e… deixa-se inebriar de sons, da luz e da sombra,
das gentes que seus dias cruz am.
De dia, os olhos abertos; de noite,
o reino do sonho a perlar de maravilhas a realidade mortífera.
O
Dia – A Noite – O Dia (Fólio Exemplar, Lisboa, Junho de 2012, ISBN:
978-989-8382-06-1), de António Salvado: 20 páginas, 24 instantâneos –
pinceladas tersas de um quotidiano vivido.
A noite, «insondável estreita porta aberta
/ que mal ultrapassada logo encerra» (p. 15) – e há espaços entre as palavras,
para nós pararmos em reflexão. A Terra, este «singular planeta onde a morrer se
nasce, onde a nascer se morre» (p. 16) – e é verdade! Noite para pensar no que
sou: «o recôndito agraz húmus d’o tudo / que é o nada de um elo a que estou
preso» (p. 17). Noite que se apresenta com «descanso merecido após horas e
horas de dureza» e que poderia ser vista, afinal, como «a fonte da qual água
corria / e a esp’rança se vestia de tom verde».
Ultrapassa as quatro dezenas a obra
poética do Dr. António Salvado, albicastrense dos quatro costa dos.
O
Dia – A Noite – O Dia constitui pausada meditação
– a fim de, na mesinha de cabeceira, servir de embalo fecundo para a macieza da
noite.
Publicado
no semanário Gazeta do Interior
[Castelo Branco], nº 1239, 12-09-2012. p. 14.
Sem comentários:
Enviar um comentário