quinta-feira, 1 de agosto de 2013

«Animais, nossos amigos»

            Veste-se excêntrica. Lenço garrido na cabeça, piercings nas pálpebras, no nariz… Calças pretas, justinhas. Botas pretas. Farta mochila às costas, donde pende um balde de plástico.
            Uso o presente do indicativo, mas o correcto era o pretérito imperfeito, pois, neste quente final de tarde da 2ª metade de Julho, no largo da estação ferroviária de vila balnear, foi visão rápida, no meio de tanta gente fartamente bronzeada e meio despida pelo calor, de regresso a casa. Ainda a tentei ver pelo retrovisor. Mas só o outro «pormenor» logrei descortinar, correndo-lhe atrás: o pastor alemão e um rafeiro de menor porte. Eram, seguramente, a sua fiel companhia. Quiçá, a única. De todas as horas – as boas e as más.
            E dei comigo assaltado por bem controversos pensamentos. O papel essencial dos animais de companhia. Não apenas para os que – como esta jovem – optam por se passear por aí, em liberdade plena, mas para os anciãos, as crianças, todos!...
            Assaltam-me as imagens e as frases por ocasião de incêndios e de inundações, por exemplo. Quantas vezes, mais do que os parcos haveres, o que se privilegia para salvar da catástrofe é o gato, o cão, e, até, o periquito ou o papagaio!... Falamos dos milhares de anciãos sem família, a viverem sozinhos… mas lá têm o cão presente em todos os minutos, pronto sempre à necessária carícia. Pode não haver uma côdea para o dono, tentar-se-á algo para o bicho. E, se é pequena a côdea, dá para os dois, isso é que dá! Tem de ser!
            E nas CERCIs não se praticam agora as terapias assistidas por animais? Na de Cascais, já não há a Cerci, que era uma delícia de cadela, mas outros vieram substituí-la, elementos fundamentais de educação para a vida daqueles que nasceram diferentes, mas a quem a ternura diária de um animal nunca deixa indiferentes.
            Sonhei ou, na instrução primária, eu tinha num dos livros o texto com o título «Animais, nossos amigos»? Acho que sim. A frase (de quem será?) constitui, aliás, corrente lugar-comum, com, se calhar, milhões de referências na Internet. Nem sempre, porém, disso se tem consciência plena; e, em tempo de férias, fácil e vilmente se abandona quem, sem nada pedir, fez as delícias do seu Inverno.
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 621, 01-08-2013, p. 16.
 

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