Pode interpretar-se num sentido
pejorativo: «Não careci de mestres, tudo aprendi por mim, pronto!». Detém,
todavia, a meu ver, no currículo de um artista, uma confissão de humildade:
«Fui aprendendo por mim, subi a pulso a encosta ,
aceitem-me como sou!»…
Nélio Saltão autodidacta se
confessa. E quem com ele priva reconhece facilmente que essa sua afirmação vem aureolada de mui profunda modéstia.
Nos catálogos das exposições se pode
seguir com facilidade o seu percurso e nelas amiúde se assinala que o cropiê do
Casino Estoril – seduzido, porventura, pelo variegado colorido das fichas que
manuseava – cedo começou a sonhar pintura.
Explicitam-se nos catálogos as correntes
artísticas por que naturalmente foi evoluindo desde o sugestivo pormenor daquela
natureza-morta à geométrica densidade colórica duma exposição como Red (Galeria
do Casino, Janeiro de 2008 – um catálogo a ciosamente guardar) ou mesmo Ancorados (Centro Cultural de Cascais,
Março de 2015), homenagem a uma Cascais de pescadores por cuja manutenção insistimos em lutar.
Ignorante sou de teorias artísticas;
e acredito que serão cabalmente compreendidas pelos especialistas frases como
esta, convocada precisamente para a exposição
Red: «A presente fase parece abdicar
das formas convencionais para se afirmar em composições parceladas nas quais as
cores se exibem numa alacridade exaltada ou se apagam na serenidade das
magníficas variações tonais». Eu não as sei escrever. Contudo, a circunstância
de essa exposição Red trazer dedicatória a Robert Mahler
evoca uma faceta assinalável de Nélio Saltão: a sua enorme vontade em aprender,
em estudar, em ver e perscrutar e, sobretudo, em ouvir ‒ atitude que, todos sabemos,
cada vez menos se pratica.
E é aqui que entra o Dr. Nuno Lima
de Carvalho. A proximidade da galeria em relação
ao que foi o seu local de trabalho permitiu a Nélio Saltão beber na fonte, diariamente,
preciosos ensinamentos, que ciosamente buscava.
Para um mestre, a maior alegria é sentir que deixa discípulos; para um director
de galeria, se calhar, a maior parte das vezes, o que o consola é o número de
nomes sonantes que nela consegue expor. Creio, porém, que – sem desprimor desse
prestigioso objectivo – Nuno Lima de Carvalho pautou sempre a sua actuação num sentido a que, como docente, dou o maior
relevo: os salões da Primavera e do Outono e o constante diálogo com os professores
das escolas de Belas-Artes sempre visaram a vontade de descobrir novos valores
– valores que, depois, ele próprio ia apoiando, dando a possibilidade de ali
voltarem a expor, colectiva ou, até, individualmente. O seu sonho de criar um
Museu de Arte Infantil ia também nessa direcção ,
um caminho infelizmente frustrado pela incultura de quem, por vezes, acede às
rédeas da governação . Foi Lima de
Carvalho lançando sementes; muitas germinaram bem e deram frutos ubérrimos!
Justo é, pois, justíssimo até,
juntar Nuno Lima de Carvalho e Nélio Saltão, aqui e agora. Nélio Saltão
reconhece bem quanto deve ao acompanhamento constante de Nuno Lima de Carvalho.
E estou certo de que Nuno Lima de Carvalho revê em Nélio Saltão um elo ímpar
dessa plêiade de artistas que tem amparado. Um Mestre, na verdadeira acepção da palavra! Parabéns!
José
d’Encarnação
Quadro de Nélio Saltão |
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