Maria Cabrita e Francisca Laia - canoístas - medalhas de ouro [Foto do Diário de Coimbra] |
Também
já começam a ser notícia as outras muitas medalhas que, à custa de enorme dedicação
e, amiúde, sem apoios oficiais, os nossos atletas paralímpicos arrecadam nas competições
em que entram.
Para
contrabalançar a enxurrada de informação sobre o Europeu de Futebol, a RTP 1
apresentou, ainda que timidamente (a meu ver), portugueses de êxito nos mais
variados sectores de actividade e nos mais variados recantos do mundo.
Custou-me,
por isso, ouvir, no decorrer de uma reportagem sobre o Rali de Portugal, aquela
senhora idosa (ou aparentemente idosa) a proclamar alto e bom som, a 22.05.2016:
«Isto é um país muito atrasado!».
Sê-lo-á
em muitos sectores; mas em quantos outros não damos cartas? Na Medicina, por
exemplo. Não correu mundo a história da criança que se desenvolveu no útero
materno e cuja mãe já se encontrava, há meses, em morte cerebral? Não foi um
êxito a recomposição do pavilhão auricular de um jovem, conseguido no Porto e
que se noticiou no passado dia 16?
Outros
olhares precisam-se, de facto. A linguagem derrotista e negativa carece
urgentemente de se alterar!
Música
Nikolay
Lalov dirigiu, mais uma vez, a Orquestra Sinfónica de Cascais: foi o Concerto
de Verão, no passado dia 11, no auditório da Senhora da Boa Nova (Galiza - S.
João do Estoril).
Perguntar-se-á:
que tem isso a ver com o que atrás se escreveu? Muito, responderei, pelo
significado que tem um município teimar em manter uma Orquestra Sinfónica, em
tempos onde as atenções vão para os bancos que caem, as negociações que se
quebram, os incompreensíveis atentados quotidianos... E é bom, por isso, dizer
que, mais uma vez, o auditório se encheu e que os músicos nos brindaram com um
reportório nada habitual, a exigir de todos o domínio perfeito da pauta que
lhes cabia e a sua mais aturada concentração.
Trechos
que – se bem compreendi – raramente se executaram em Portugal (salvo a
conhecida «Dança do Sabre»). Do búlgaro Lubomir Pipkov (1904-1974),
Introdução
e
Danças da Ópera "Momchil" (se não erro, a
primeira audição a nível nacional); depois, do arménio Aram Khachaturian
(1903-1978), incluídas na Suite do Bailado "Gayaneh", a mencionada Dança do Sabre, a Dança de
Ayshe e Lezghinka. Fomos brindados com uma peça extra antes do intervalo,
porque a 2ª parte foi de uma variedade incrível, em que vimos – como raramente
se observa – um diálogo estreitíssimo e bem difícil entre os metais e os
fagotes com os instrumentos de corda e onde a percussão, o piano e a harpa
também desempenharam papel de relevo.
Estou
a referir-me à peça do compositor russo Modest Mussorgsky (1839-1881),
intitulada Quadros de uma Exposição,
com orquestração de Ravel.
Vale a pena
contar como é que tudo aconteceu, em Junho de 1874.
Ao
visitar, numa galeria de São Petersburgo, a exposição de pintura do seu grande
amigo Viktor Hartmann, recentemente falecido com apenas 39 anos, Mussorgsky ficou
de tal forma impressionado que decidiu escolher dez quadros e compor uma música
para cada um, unindo-as com um tema comum a que deu o nome de Promenade
(«passeio»). Perpassam, pois, pelo conjunto as melodias folclóricas russas e o resultado
é admirável, invulgar, estranho até (ousaria dizer) a ouvidos mais atreitos às
doçuras líricas e a outros passeios mais românticos... Este «passeio», porém, é
doutro estilo e não deixa de nos encher as medidas.
Há
que repeti-lo, amigo Lalov, embora suspeite da enorme dificuldade que tem a sua
execução.
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal, nº 145, 22-06-2016,
p. 6.
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