Não, não são apenas as cores variegadas que podemos imaginar, sentados no
areal, ao saborear a visão do mar e da serra – «onde a terra se acaba e o mar
começa», para usarmos o verso de Camões n’Os Lusíadas. Ou melhor, é
capaz de serem mesmo todas essas cores, numa amálgama policromada, onde só de
quando em quando se lobriga, além, a serra e o Cabo da Roca. Aliás, eu acho que
Diogo Navarro não se preocupou em retratar nem a serra, nem o mar, nem o areal,
nem pessoas que porventura, a determinada hora, se passeassem pela praia. O seu
foi – em todas as telas – um sentir tão denso, tão policromadamente forte que
originou esse esbanjar de cores sobre superfícies grandes, como que a querer
abarcar o largo horizonte que dali se enxerga.
Quiçá, a lição fundamental seja essa: sentados, ao pôr-do-sol, no areal do
Guincho, contemplando a Serra da Lua – já os Romanos sentiam que por ali tinha
de existir um génio, algo que nos levasse consigo para multicoloridos longes
(sim, que a imaginação é multicolor, tem de ser!...) – somos inundados pelas
mais variadas sensações anímicas, reconfortantes como aquela pequenina mancha
vermelha que, solitária, acena numa dessas telas enormes.
Mas… houve um mas: é que Diogo Navarro ousou enquadrar algumas dessas telas em
mui barrocas molduras doiradas. Foi provocação – confessou-nos, quando o
convidámos a tirá-las. É que, segundo ele, nem todas as paisagens se querem
livres e ilimitadas. O pintor decidiu que algumas tinham de ser enclausuradas
para melhor servirem os seus intentos: obrigar-nos a prescindir das riquezas
exteriores para melhor se captar a beleza do interior.
Pode não se gostar deste tipo de pintura que poderíamos quase classificar de
‘abstracta’, embora com ponto de partida concreto: «The Mountain by the sea»,
«a montanha junto ao mar»; mas eu quase ousaria afirmar que é imperioso dar uma
saltada à galeria do Casino, até ao dia 16 de Maio, para ter, bem nítida, a
sensação do que é deixar-se… seduzir!
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