Compreendo agora melhor o que significa
desprendimento dos bens materiais, ao verificar quantos dos casais jovens vão
viver para, por exemplo, o Reino Unido. Arrendam uma casa, mas depressa hão-de
mudar de emprego e, por conseguinte, de morada. E lá vão eles, de tralhas
atrás…
É curiosa, nesse sentido, a imagem
de um aeroporto, ao vermos as pessoas – são sobretudo jovens, mas também há os
de meia-idade e até seniores – a puxar pesadas malas, com suas roupas e outros
haveres. Abençoado Bernard Sadow, que inventou as malas
com rodinhas, inven
Essa, aliás, a sensação que começa a ter-se quando se antoja a
oportunidade de – aproximando-se a Grande Viagem – se dar destino ao que fomos,
ao longo da vida, considerando imprescindível e ora se nos afigura menos
necessário a nós e mais útil a outrem, quando os descendentes também consideram
poder prescindir desses carregos, porque também eles encaram a existência,
mormente a nível profissional, como algo que já deixou de assumir em definitivo
o carácter de permanente, duradouro, «para a vida».
Portanto, aquela imagem de «alijar
carga», que nos surgia apenas quando se falava de barco em perigo de
afundamento, deixou de ter apenas esse significado concreto, exclusivo. Um
progresso? Uma mais-valia, inclusive em termos espirituais, porque todas as
religiões apregoam justamente o desprendimento como via para atingir a perfeição ?
Se for essa uma ideia que se generalize e serenamente se aceite, não
há, evidentemente, problema nenhum; se, ao invés, tal acarretar
desenraizamento, perda de identidade, motivo de desconforto real e permanente,
precisamos urgentemente de sobre isso reflectir.
José d’Encarnação
Publicado
em Renascimento (Mangualde), nº 714, 1 de Setembro de
2017, p. 11.
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