segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Faleceu o Padre Amador dos Anjos

             Com a provecta idade de 98 anos (completaria 99 a 25 de Janeiro) foi hoje a sepultar, no cemitério de Alcabideche (Cascais), o Padre Amador dos Anjos, que viveu, durante os últimos dez anos, na residência sénior dos Salesianos de Manique.
O Padre Amador dos Anjos, ladeado pela Doutora Manuela Mendonça,
presidente da APH, e pelo Doutor Armando Martins, proponente da homenagem
            Realcei, em Julho passado, a homenagem que então lhe foi prestada pela Academia Portuguesa da História, ao nomeá-lo académico honorário, a galardoar assim o seu meticuloso labor de escrever a história da Congregação Salesiana (hoje, Fundação Salesianos) em Portugal, Cabo Verde, Moçambique e Timor. Uma obra notável no âmbito da educação da juventude, nomeadamente a mais carenciada, que hoje se revê nos seus antigos alunos e nos milhares de estudantes que frequentam as suas escolas – no Porto, em Mogofores (Anadia), em Vendas Novas, em Évora, nas Oficinas de S. José de Lisboa (relevante marco no ensino das artes gráficas em Portugal) e, também, no concelho de Cascais, onde detém a Escola Salesiana do Estoril e a Escola Salesiana de Manique.
            Particularmente vocacionados para o ensino técnico-profissional – que, por via das absurdas reformas levadas a cabo por sucessivos governos que o liquidaram e hoje se quer recuperar – os Salesianos, como o Padre Amador dos Anjos consignou em livro, continuam a deixar obra válida, no campo da educação juvenil, pondo em prática o chamado Sistema Preventivo, que preconiza a presença assídua dos educadores junto dos educandos e onde, para além da leccionação oficialmente obrigatória, se dá lugar ao teatro, à música e à prática desportiva, no intuito de uma formação completa. Disso é reflexo, por exemplo, a Juventude Salesiana que, no Estoril, deu cartas e formou campeões no hóquei em patins nacional.
            Como já assinalei em Julho, tive a honra de ser aluno do Padre Amador dos Anjos, em Manique, na disciplina de Literatura Portuguesa no ano lectivo de 1962-1963, no meu 6º ano dos Liceus. Ainda guardo religiosamente as folhas dactilografadas com os exercícios de análise literária que ele, na sua letra miudinha, me corrigiu e anotou, a vermelho. Com ele aprendi, de facto, muito do que hoje sei na arte da escrita e da interpretação textual.
            Com a presença de cerca de uma quarentena de amigos, antigos alunos, confrades e Filhas de Maria Auxiliadora, concelebraram a missa cantada, de corpo presente, dezoito sacerdotes salesianos, sob a presidência do provincial, Pe. José Aníbal Mendonça. À homilia, o provincial salientou os momentos mais significativos da biografia do ilustre defunto e leu depoimentos de seus amigos e companheiros da sua longa e luminosa caminhada. No final, usou da palavra o Padre David Bernardo, que deu conta da serenidade com que o Padre Amador se preparara para a partida, salientando um dos aspectos que mais o cativou: a perene atitude de agradecimento que tinha para com todos os que nestes últimos tempos lhe dispensaram cuidados.
            Que descanse em paz quem, tão diligentemente, soube espalhar o pensamento pedagógico e sacerdotal de D. Bosco, o insigne fundador, em finais do século XIX, da Obra Salesiana. Tempo é não de tristeza por quem parte, mas de conforto e reconhecimento pelo exemplar testemunho que nos legou.

            Cascais, 4 de Dezembro de 2017

                                                                                  José d’Encarnação
P. S.: O corpo do ilustre sacerdote será oportunamente trasladado para o cemitério da Galiza (Estoril), onde repousam os restos mortais dos membros da Família Salesiana falecidos no concelho de Cascais.

2 comentários:

  1. Domingos Barradas 5/12 às 5:10
    Um grande Filho de Dom Bosco, um Salesiano português que nos enche de orgulho pela sua dedicação à Obra Salesiana em Portugal e pela sua vasta cultura. Que a sua alma repouse na merecida paz celestial. Obrigado Pe. Amador pelo legado que nos deixaste.

    ResponderEliminar
  2. Pe. Rocha, 5 de Dezembro de 2017 16:04
    Amigo José d’Encarnação. Que beleza e que sensibilidade a tua. Como salesiano e como amigo teu agradeço-te profundamente este teu gesto. Dignificas Dom Bosco, o Pe. Amador e tantos como eu e tu bebemos destes saberes e partilhamos dos mesmos ideais. A fonte é a mesma. Parabéns. Um grande abraço. Pe. J. Rocha Monteiro.

    ResponderEliminar