Não
admira que, no final, o maestro se sentisse prostrado, tamanha foi a necessidade
de guiar este e aquele naipe, obrigando-se a um bailado de sortilégio, em que
todo o seu corpo, que não apenas os braços, se deixou inebriar.
Esta,
a segunda parte do Concerto de Inverno com que a Orquestra Sinfónica de Cascais
nos brindou na noite do dia 9, no Auditório da Senhora da Boa Nova. O simples
enumerar dos andamentos dá para se compreender a extrema variedade dos ritmos
com que nos deixámos deslumbrar: adagio,
allegro non troppo, andante, moderato mosso, allegro vivo, andante come prima,
allegro con grazia, allegro molto vivace, todos eles a precederem o final,
que não foi apoteótico mas adagio lamentoso,
qual prece a envolver-nos no último Outono da vida… Um presságio? Quiçá, sim.
Os biógrafos o dirão, certamente.
Alternaram-se,
pois, o moderado movimento, com os alegres, ricos de cambiantes – o ‘vivo’, o
‘com graça’ e o «muito animado»… – para esse quase fúnebre lamento final.
Entretanto, até António Machado, Fátima Juvandes e Pedro Tavares – da percussão
– foram activamente chamados a intervir, eles que, habitualmente, se limitam a
sublinhar, a espaços, uma que outra passagem mais solene. No sábado, não!
Intervieram e bem, a emprestar inusitado calor a uma atmosfera (o maestro que o
diga!) em que para o frio não houve mesmo lugar!
Foi
a primeira vez – contou Nikolay Lalov – que a Sinfónica se abalançou a
interpretar esta sinfonia. E, no rigor milimétrico dos tempos, nos silêncios e
nos fortes, nas campestres melodias em que as flautas se impuseram a solo, no
grito estridente dos metais… todos os 61 músicos se esmeraram, num contentamento
bem visível nos abraços finais que se trocaram.
A
primeira parte estivera diferente: o Triplo Concerto em dó maior (op. 56) de
Ludwig van Beethoven. Escrito entre 1803 e 1805, só foi publicado
em 1807 e estreado no ano seguinte, tinha o músico 38 anos. A designação de «triplo» deriva do facto de estar previsto
que a orquestra acompanhará três solistas: ao piano, ao violino e ao violoncelo. Não terei errado ao
escrever que, neste concerto, a missão da orquestra é «acompanhar». Na verdade,
essa é a sensação que temos, no
constante entretec er do diálogo
entre os três instrumentos. Lalov convidou o famoso violinista Christian
Altenburger (Heidelberg, 7-9-1957), que, tendo aprendido violino com o pai, deu, aos 7 anos, o seu 1º concerto
público. Alto, solene, virtuoso, compenetrado, exímio… contrastava, no tamanho
que não no virtuosismo, com o jovem violoncelista russo, que vive em Lisboa,
Pavel Gomziakov (Tchaikovsky, 1975). Ao piano, esteve a norte-americana Elizabeth
Allen, que se define como «uma apaixonada por Portugal» e que reside há 30 anos
no Estoril.
E
foram estes três conceituados músicos que, muito aplaudidos, fizeram as honras
da 1ª parte do Concerto de Inverno.
Christian Altenburger |
Pavel Gomziakov |
Elizabeth Allen |
A
segunda observação : o nenhum cuidado
que se teve na elaboração dos
bilhetes. Neles aparece três vezes a expressão «Centro Paroquial do Estoril»
(uma delas em siglas) e três vezes se lê auditório, numa delas assim: Auditório Senhora da Boa Nova CPE (Auditório). A palavra ‘convite’
está em duplicado e o concerto vem designado como «Concerto de Inve». Não há aí
ninguém que perceba um bocadinho só que seja das regras da escrita?...
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal [Cascais],
nº 215, 13-12-2017, p. 8.
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