terça-feira, 17 de novembro de 2020

Cogumelos

              Inesperadamente, olhei para o chão, movido apenas pelo instinto de saber onde é que iria pôr os pés. E ele lá estava, todo ufano, no seu elegante chapéu. Fiquei parvo: ali, entre as pedras da calçada! Nenhum humano o pisara, nenhum cão lhe pusera o focinho em cima, nenhum rodado de carro o esmagara! Resplendor selvagem na praça dum bairro suburbano! Fotografei-o, claro, que essa inusitada presença não podia deixar de se registar! E lembrei-me que, ainda há pouco, na 1ª semana de Novembro, no noticiário da RTP 1, uma senhora mostrara um exemplar magnífico!

            Confesso a minha total ignorância no que respeita a cogumelos. Quais os venenosos, quais os bons. Que são deliciosos, bem no sei; que são mortíferos, também. E lembro-me sempre aquela triste hora de almoço perto de Suceava, na Roménia, na 2ª quinzena de Setembro de 1977: a aldeia estava de luto, porque toda uma família morrera por os ter comido venenosos…

Em contrapartida, os deliciosos aperitivos em Oviedo, nas Astúrias, acompanhados por uma sidra escorropichada a preceito naquele ritual de que os empregados sempre gostam de fazer gala. Aperitivos e refeições! Que, nas Astúrias, pode fazer-se uma refeição inteirinha só de cogumelos, cozinhados das mais diversas maneiras e das mais variadas  qualidades! «Setas» lhes chamam – e que delícia!

Entre nós, só muito recentemente os cogumelos começaram a ser apreciados na culinária, embora, na maior parte dos casos, no-los sirvam de conserva, laminados, sem aquele sabor forte do cogumelo selvagem.

Por isso, onde eles abundam e era tradicional a sua apanha pelos particulares – e o pessoal sabia distingui-los bem – os municípios descobriram que seria bom favorecer o seu aproveitamento, até numa lógica de património gastronómico. Organizou-se em Foios (Sabugal), a 24 de Outubro de 2009, a Jornada Micológica, com o objectivo de «aprender a conhecer mais e melhor os cogumelos», sob orientação do Engº Gravito, «técnico do Ministério da Agricultura e especialista nesta matéria», que procedeu à «verificação e classificação» do que se colhera. Os participantes haviam sido convidados a vir munidos de «uma cesta, uma navalha e um pau»! Também a Câmara de Portel organiza passeios temáticos «Pela serra, à descoberta das silarcas»; o de 4 de Abril de 2009 foi acompanhado pela bióloga Celeste Silva.

José d’Encarnação

Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 787, 15-11-2020, p. 11.

 

6 comentários:

  1. Lindo no meio do empedrado,,,,valente!

    ResponderEliminar
  2. Foi tão grato ler este bonito texto sobre a excelência dos cogumelos (bons, é claro) a propósito desse encontro com um cogumelo a nascer (quase) das pedras! Lembrei-me das setas, inúmeras, exuberantes, de todas as qualidades no mercado de San José ou La Boqueria, em Barcelona, e de quantos cogumelos cozinhei em minha casa, na zona centro...Que bons! Até que um dia soube de um caso idêntico ao dessa aldeia romena. Agora, só de cultura. Muito grata pela partilha destes belos pedaços de prosa.

    ResponderEliminar
  3. Caro Zé Manel

    Lindo texto e lindo cogumelo. Mereces três visitas pela minha filha pintora de cogumelos e que muito te pode ensinar sobre os ditos. Tem três exposições nes treciso momento.
    Uma no Palácio da Pena-na Abegaria, outra na Estufa Fria em Lisboa e outra em Idanha a Nova. telefona-lhe e combina com ele directamente. Ela tem um excelente catálogo com pinturas de cogumelos que terá muito gosto em te oferecer.
    Grande abraço da Ana e do Pedro que se estar a tratar de um cancro desde Maio. Espero que almocemos todos no fim desta pandemia...

    ResponderEliminar
  4. Marizebrito, 21-11:
    Também gosto muito deles, mas confesso que só me atrevo a comê-los de compra. Nunca os apanharia, pois também não sei distingui-los. Mas que são bem saborosos, lá isso são!
    Quanto a esse cogumelo em particular, pois é uma questão de sorte! É como as pessoas: umas parece que, por mais cuidado que tenham, tudo as atinge. Outras conseguem sempre, mesmo no meio dos perigos, passar intactas. Vá-se lá perceber!
    Bj.
    Ju

    ResponderEliminar