Aquelas entradas escusas, meio
escondidas por entre a vegetação, despertam a curiosidade, acicatam a
imaginação. Quantos de nós não recordamos idas à socapa da autoridade paternal
para aquela caverna?! Que estaria lá dentro? Só morcegos pendurados? Algum
tesouro? Recordo os olhos iluminados dos meus netos quando lhes propus entrarem
comigo nas «misteriosas galerias» (disse-lhes eu) da Quinta da Regaleira, em
Sintra! E, em moço, como eu gostava de espiolhar tudo o que, por essa Serra de
Sintra, parecia escondido atrás das penedias!...
Não
me admiro, pois, que a mina-galeria da Quinta da Soenga bailasse amiúde no
pensamento de José Manuel Azevedo e Silva. E foi esperando, esperando, até que
não resistiu. Sabia ele que o Canto tivera judiaria; mas judiaria sem sinagoga
é como pão sem fermento! «Os topónimos Canto e Mortórios instalara no nosso espírito
a hipótese, a forte probabilidade, quase-certeza, de que a sinagoga estava na
mina-galeria» (p. 9).
Assim
se explica a razão da escolha da capa apresentada na crónica do passado dia 1:
uma luz ao fundo de escuro túnel! Azevedo e Silva entrou na mina, interpretou
os «desenhos de simbologia judaica gravados na rocha granítica» e logo pensou
que deveria trazer toda essa realidade «à superfície com a ilustração fotográfica».
O seu
livro «A Judiaria do Canto, Tibaldinho, Mangualde – Um caso único em Portugal e
no mundo» vale, pois, por essa ‘reportagem’ muito bem acompanhada por outras
fotografias deveras elucidativas (capítulo III), pelo texto explicativo e seus
anexos.
Não
quis deixar de, a princípio, mormente para os seus compatrícios, gizar a traços
largos o que foi a odisseia judaica nas terras peninsulares, a necessidade de
às ocultas – aqui, concretamente, nas entranhas da terra – praticarem as suas
devoções, como os antigos cristãos haviam tido necessidade de fazer nas
catacumbas de Roma.
O I capítulo
trata dos Judeus em Portugal. Não é apenas uma súmula do que se conhece, mas
também uma chamada de atenção para a mobilidade que levou os cristãos-novos a
fundarem núcleos rurais, de que o autor refere 34 casos na Beira Alta, com
destaque para a comunidade judaica de Belmonte. Trata o capítulo II da judiaria
do Canto, bom pretexto, por exemplo, para incursões no teatro de Gil Vicente. Então
não é que há um pastor Tibaldinho no Auto de Mofina Mendes?...
Enfim,
pela saborosa pena do Doutor Azevedo e Silva há todo um mundo, porventura
ignorado, que se ressuscita. E ainda bem!
José
d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 796, 01-04-2021, p. 11.
De facto,se uma informação não for escrita e publicada, o que ela contem vai pª o baú do esquecimento. Seria uma pena se se perdesse tanta coisa nova e desconhecida, pelo menos para mim próprio.
ResponderEliminarBem hajas meu ilustre amigo José D'Encarnação
victor brito