Considera-se inegável que, na
actualidade, o Museu do Trajo de S. Brás de Alportel constitui, no concelho, um
foco cultural da maior relevância, tido em consideração pelos demais museus do
Algarve, pelo dinamismo que tem demonstrado.
É de salientar, de modo especial, o
seu imprescindível papel na aglutinação da comunidade em torno de valores como
a Música, as Artes Plásticas e, inclusive, no apoio a todas as iniciativas de
âmbito sócio-cultural. Aliás, tem sido o Museu um dos paladinos da chamada
Museologia Social, que compreende a íntima interligação entre o espaço e a
comunidade.
Nascido e desenvolvido pelos Padres
Cunha Duarte e pela constante doação de objectos por parte de particulares – de
realçar as peças de vestuário e por isso se denominou Museu do Traje! – ficou integrado
na Santa Casa da Misericórdia local. Aliás, na página dessa Santa Casa pode
ler-se:
«Constituindo a valência cultural da
Misericórdia de São Brás de Alportel, o Museu do Traje destaca-se pela sua
abertura e envolvimento com a população local. Para o turista, o interesse
reside nas exposições, nos edifícios e nos jardins. Para a comunidade, o Museu
é sobretudo um ponto de encontro, espaço de cultura, socialização e partilha de
saberes».
É isso mesmo! Os anteriores
responsáveis pela Santa Casa levaram 35 aos a construir o Museu que temos hoje.
Acontece, porém, que os actuais responsáveis por aquela instituição parece que
se esqueceram disso. E – quanto nos é dado saber – também aí se quer impor uma
lógica economicista. Estamos de acordo: o Museu pode dar dinheiro, pode não ser
um peso para a instituição. Ou, se a instituição Santa Casa acha que não pode
arcar com esse ‘peso’ da Cultura, desista e entregue a gestão a quem melhor a
saiba e possa gerir. Não se fazem omeletas sem ovos; não se consegue manter o
nível de acolhimento sem funcionários, sem estagiários, e sobretudo sem a
LIBERDADE de gestão que é o oxigénio que a cultura necessita para se manter
viva...
Sim,
aparentemente nas obras de Misericórdia que o Provedor, os membros da Mesa
Administrativa e os membros da Mesa da Assembleia Geral juraram pôr em prática
não consta a de manter um Museu. Mas ¿«Dar
de comer a quem tem fome», «Dar de beber a quem tem sede» também não se entende
no sentido espiritual – que a Cultura mata a fome e a sede de conhecimento? ¿E
que tem feito o Museu senão «Dar pousada aos peregrinos» quando acolhe os
estrangeiros que escolheram S. Brás para viver? ¿E não é o Museu a escola onde
se «ensinam os ignorantes»?
Um museu não é um
depósito de objectos que ali se foram acumulando. Esses objectos requerem vida,
requerem contexto, requerem investigação, requerem aliciante! Que este edifício
apalaçado, do séc. XIX, que foi propriedade do industrial corticeiro Miguel
Dias de Andrade, transformado, em 1986, no Museu do Traje, é bem o ex-libris de
S. Brás de Alportel. É, pois, obrigação dos são-brasenses – e em primeiro lugar
da Misericórdia de que administrativamente depende – salvaguardar
religiosamente esta riqueza singular!
José d’Encarnação
Publicado em Notícias de S. Braz, nº 296, 20-07-2021, p. 13.
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