Só
depois do primeiro momento nos apercebemos do sentido e, no entanto, a palavra
«cerveja» entrou no cérebro e despertou o desejo – e era o que se pretendia!
Uma
das publicidades brincalhonas. Como a da Joana que, por ter conseguido um
seguro mais barato, não sabe o que há-de fazer ao dinheiro. E, deste lado, ao
vê-la besuntar atabalhoadamente os lábios ou a equilibrar-se a custo nos
sapatos, sorrimos e garantimos que connosco isso nunca aconteceria, porque não
há despesas a menos e porque sabemos muito bem onde é que precisamos mesmo de o
gastar. Manteiga em focinho de cão!... E ocorrer-nos-á, nessa da cerveja,
«tomorrow never comes», o amanhã nunca chega!
Sim,
tem razão, Amigo, eu não devia usar a frase inglesa, paladino, como sou, do uso
quotidiano da fraseologia vernácula portuguesa, mirandesa ou barranquenha. O
certo é que, outro dia, por tanto proclamar a riqueza da língua portuguesa
(https://laconimbriga.blogspot.com/2021/08/a-riqueza-da-lingua-portuguesa.html),
levei na cabeça, num extenso e deveras bem estruturado comentário assinado por
Grouchy Smurf, a preconizar o uso do inglês para que haja maior divulgação dum
trabalho científico, acrescentando:
«Se
esta investigadora está apaixonada pelo seu tema e quer divulgá-lo, parece-me
assaz natural que o publique na língua franca científica da sua época. Por
contingências históricas essa língua é hoje o inglês, tal como em tempos foi o
grego, depois o latim, houve períodos da Idade Média em que era essencial
dominar o árabe, e no Iluminismo era necessário saber francês. No futuro talvez
seja o mandarim, quem sabe?».
Pois.
Uma coisa é, porém, a linguagem científica, outra o nosso quotidiano. Não
resisti, por isso, quando a Francisca, de cinco anos, esteve aqui e dizia «ok»,
eu – com licença dos senhores seus pais – a corrigi para «Está bem!». Escapava-lhe
o ok, eu exclamava «Francisca!» e ela: «Está bem!», assim como quem diz «Não me
chateies, que foi assim que eu aprendi!».
Grouchy
Smurf, apesar do sugestivo pseudónimo colhido na personagem principal dos
«Smurfs», redige muito bem em língua portuguesa. Dou-lhe razão no que
concerne à escrita para divulgação internacional; continuo, todavia, a preferir
«até já!» ou «até logo!» em vez de ‘ciao’ ou ‘bye-bye’! Esquisitices!…
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 812, 15-12-2021, p. 12.
Li com prazer e proveito. Alberto Correia
ResponderEliminarOs escritos do Professor José D'Ecarnação trazem sempre algum conhecimento que vale a pena registar
ResponderEliminarCom uma ponta de ironia e de muito savoir-faire, aqui o autor pretende enfatizar que, no domínio da Língua, há momentos especiais para se usarem estrangeirismos, embora a regra seja o Português em toda a sua pureza. Eu também sou muito esquisita.
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