Prof. Doutor J. M. Pedrosa Cardoso |
No último mês, a consciência perfeita de que a meta estava bem próxima e que convinha preparar-se para, corajosamente, a cruzar. Começaram, pois, os preparativos e, a 14 de Novembro, a esposa escrevia-nos:
«Não pode receber visitas, apenas eu o posso ver. Está sereno, sem dores, muitíssimo cansado. Preparado para a viagem onde será recebido pelo PAI CELESTIAL. Ontem escrevi a seu pedido as músicas que se vão ouvir na sua partida, no velório. Pediu que fosse feito silêncio e nada de LÁGRIMAS. […] Fiquem tranquilos, porque a PAZ está connosco. Darei notícias».
E a mensagem ditada, que eu não lograria ler sem impertinente nó na garganta. Manuela quis que ficasse gravada na pagela in memoriam que nos entregou. A mensagem sob a sua colorida foto sorridente; do outro lado, em tons de cinza, as mãos que se entrecruz(ar)am na melodia do Amor – num halo de eternidade!
E é assim:
Ainda não eram 10 horas de 10 de Dezembro. A partida fora a 8, dia da Imaculada Conceição, outrora Dia da Mãe em Portugal.
No silêncio do Centro Funerário, após as orações rituais, «lembra-te, ó homem, que és pó», as preces íntimas, as emoções em tropel… irrompeu, glorioso, o Aleluia de Haendel. Como pedira. Frémito nosso. Silêncio total.
Depois, o sinal – sim, pode abrir a porta! Pesadas e lentas, as cortinas desviaram-se. A essa, sem pressa, seguiu o seu caminho. E nós ficámos.
ooo
Como José Maria Pedrosa d’Abreu Cardoso pedira, as cinzas serão espalhadas pelo mar de Lagos, a cidade que, depois de Guimarães, mais o acarinhou. A foto escolhida para recordação é a dele, sorridente, na entrevista, em Abril deste ano, à rádio da sua terra natal, a contar o que seriam as músicas por ele escolhidas para a sua Semana Santa.
Da Manuela e do Zé Maria, guardarei, indelével, o forte testemunho de Vida perante o cenário da Morte.
Cascais. 13 de Dezembro de 2021
José d’Encarnação
Agora estou eu com os olhos embaciados, depois de ler palavras (de todos) tão lindas. Que lição de vida tão perto da morte! Quem privou com o Doutor José Maria Pedrosa Cardoso, mesmo que por pouco tempo, reconhecia nele o ser humano que aqui se descreve. E como lhe devo (por generosa intervenção do autor deste belo texto) a bondade, delicadeza e competência de apresentar o meu livro. Se ele acreditava que ia só para o lado do Criador, deve lá ter um lugar digno do cidadão exemplar que sempre foi. Partiu em paz. Estará em paz. Foi um prazer conhecê-lo, meu Amigo. Foi assim que eu lhe falei (e repito agora) quando tomámos um café para lhe dar o livro que ele iria apresentar.
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