Não
sou minimamente contra os estrangeiros; sempre procurei acolhê-los da melhor
forma, porque a isso fui educado, dado que sempre convivi com estrangeiros aqui
em Cascais e, agora, na minha terra natal, S. Brás de Alportel, a nossa
preocupação reside em ver que boa
parte da grande comunidade estrangeira ali radicada está a pensar regressar ao
seu país de origem, atendendo à brutal carestia de vida e ao crescente clima de
insegurança que por cá também já se vive.
Ocorreu-me
a cena do jovem casal quando presenciei uma outra. Junto a um dos receptores de
lixo do bem agradável jardim da Rua Aquilino Ribeiro que dá, em S. João do Estoril,
para uma praceta sem nome e sem saída, alguém depositou um saco com roupa. A
intenção seria, decerto, que ela
pudesse ainda ser útil a alguém. Na terça-feira, 9 de Outubro, pelas 10 horas,
havia peças de roupa espalhadas pelo chão. Pelo aspecto, roupas em boas condições,
prontas a ser usadas depois de uma lavagem norma l.
Eu estava no carro, a ler, e passaram duas senhoras:
–
E vale a pena a gente dar alguma coisa? Olha aquilo ali tudo espalhado pelo
chão! – E apontava com a sombrinha, abanando a cabeça: «Não vale!».
No
dia seguinte, mais ou menos à mesma hora, a cena foi outra. As peças de roupa
ainda continuavam pela relva, mas um casal (por sinal também com sotaque estrangeiro)
que andava na distribuição de panfletos
publicitários, pegou nalgumas e, à medida que caminhavam, iam procedendo à escolha.
Não consegui ver se terão ficado com alguma peça; creio que não; mas que várias
foram semeadas pelo passeio posso garantir…
Dir-me-ão:
mas isso não é assim, tem de se ir a uma instituição !
Pois. Não sei como é agora, mas já passei por uma – e a roupa acumulava-se nas prateleiras
até ao tec to, porque… não houvera
ainda quem se tivesse disponibilizado para proceder a uma selecção criteriosa. E mais: garante-me a Joaquina que já
viu com os próprios olhos ir gente a uma instituição ,
trazer coisas e aventar parte delas para a beira do caminho, algumas dezenas de
metros mais adiante…
Publicado
em Jornal
de Cascais, nº 324, 24.10.2012, p. 6.
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