quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O dia-a-dia falado

            Andam pelos livros, recolhem-se por vezes, transmitem-se de avós para netos… mas, amiúde, a Escola vai ensinando outras frases e as que aprendemos de pequenos ou que então faziam parte do nosso dia-a-dia falado acabam por ir esquecendo, só voltando de novo à superfície (e a Ciência confirma-o…) quando entramos na chamada «terceira idade» e os ditos de infância um dia nos surgem, de repente, vindos nem nós já sabemos bem donde!...
            E infância é mundo onde os animais constituem companhia soberana, mais até do que o resto da família. Cedo aprendemos a chamar «buche, buche, buche!» para o canito vir ter connosco. Ou, então, se há bocadinho de peixe a jeito: «Bichanina, bichanina, biche, biche, biche!...» – e o gatinho lá acorre, pressuroso, a ver o que a gente quer, e sabe que coisa boa deve ser.
            Para se mostrar contente, o bichano não se cansa de dar tarrutas nas pernas do dono; por isso, aliás, um dos primeiros gestos que ensinamos aos nossos bebés: «Tarruuuta! Tarruuuta!...» – e ele inclina a cabeça para bater meigamente na nossa testa. Uma ternura convivial!... Como o é aquela carícia doce, acompanhada de lengalenga, de que cada qual cria uma versão, fazendo uma festinha ora numa ora noutra das faces do bebé, terminando em jeito de pancadinha amorosa: «Bichanina gato, que comeste tu? – Sopinhas de mel! – E não me guardaste? Maroto, maroto, maroto!»… E tudo se desdobra em gargalhada sorridente!...

Publicado no mensário VilAdentro [S. Brás de Alportel], nº 166 (Novembro 2012) p. 10.

 

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