Pergunta
sempre incómoda, a da avó para o menino que enfiava o dedinho no nariz para
tirar cocas; ou, então, que se entretinha a arrancar as crostas de ferida no joelho…
Ocorre-me
o termo a propósito de um trabalho académico, a que já aqui fiz referência
(edição de 1 de Agosto de 2014): «Epigrafia Latina dos Concelhos de Mangualde e
Penalva do Castelo», datado de Junho de 2003, que Pedro Pina Nóbrega, realizara no seu 3º ano de Faculdade, sob orientação
do Prof. Amílcar Guerra, no âmbito da disciplina Leituras e Interpretações
Epigráficas.
Depois de mui sumário enquadramento
dos dois concelhos na malha geográfica e administrativa portuguesa, o autor refere
os estudos feitos acerca de 41 epígrafes romanas identificadas nos seus
territórios; e parte da sua análise para nos dar uma ideia de quem terão sido os
habitantes desse espaço em tão longínquos tempos.
Escreve Pedro Pina, na
pág. 62 (o texto está acessível na Internet na plataforma Academia.edu), que o
trabalho epigráfico é «inesgotável», inclusive porque «cada indivíduo tem a sua
forma de ver o monumento e a inscrição. Se para uns pouco mais há a fazer, para
outros existem outros campos a explorar». Ou, para usarmos do termo que chamei
a título: há sempre outras formas de…escarafunchar!
Fez muito bem o autor em
ter chamado a atenção para essa relatividade do saber, porque se corre o risco
– hoje, em que é muito fácil disponibilizar um texto na Internet – de, um dia,
alguém considerar uma análise como definitiva e assim se transmitir
indefinidamente. Como a história do senhor padre que, um dia, pôs a hipótese de
o templo de Évora ser dedicado à deusa Diana; era mera hipótese, mas… como «de
Diana» ficou até mui recentemente!...
O próprio trabalho de
Pedro Pina pode também servir de exemplo, quando apresenta na estampa XI a foto
de uma «ara de Esmolfe» (cedida, a foto, pelo Museu Nacional de Arqueologia) e,
na estampa XIII, a mesma foto, dizendo tratar-se de uma «ara votiva de Quintela
da Azurara» e «foto de Inês Vaz»! Uma troca evidente, se se ler o texto: faltou
a foto da epígrafe 14 e repetiu-se a da 16. Fui… escarafunchar e achei!
José d’Encarnação
Publicado no quinzenário
Renascimento (Mangualde), nº
667, 01-08-2015, p. 24.
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