quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O senhor que bebeu medronho a mais

            Multiplicam-se as editoras, na convicção de que o negócio dos livros é mina de oiro. Sei que, para uma editora da nossa praça, o é. Pelo menos, na aparência, porque, quando lhe dei a conhecer a recensão que fizera a um dos livros por ela editados, a primeira preocupação – sem que sequer tivessem lido o que eu lhes escrevera – foi responder-me: «Passe para cá 900 euros e nós publicamos-lhe o livro». E eu nem lhes propusera nada!...
            Bem andou, pois, a nossa Câmara em ter incluído nas comemorações do Centenário notável rol de publicações, contando, porém, os cêntimos e programando para a Feira da Serra, à última hora, sessões de autógrafos, a fim de, eventualmente, recuperar parte das verbas dispendidas. Se é que o pôde fazer, assim sem mais nem menos...
            Creio que este tema deveria ser alvo de reflexão, porque amiúde me consta estar consignada na Lei das Finanças Locais (não sei se está, confesso), a impossibilidade de um município poder inserir na sua contabilidade verbas provenientes da venda de suas publicações.
            Se está, continuo a pensar que teria bebido uns cálices a mais de medronho o dono do bestunto que tal pensou e os que, ao depois, o aprovaram sem ler. Pode lá haver uma regra mais à contrária à difusão da Cultura por parte de uma autarquia? Uma boa gestão do Vereador da Cultura passa, justamente, pela promoção de publicações de índole local que suscitem o interesse da população, que fomentem a sua memória e, consequentemente, o seu enraizamento. Trata-se de um investimento e não de uma despesa, até porque facilmente se logrará promover a sua difusão e, mais mês menos mês, a edição está paga, se calhar até alguma verba excedente se arrecadou, a fim de ser aplicada em uma edição mais, que está à espera.
            Surge-me, desde logo, o exemplo de Memórias das Terras de Alportel, que, a expensas suas e para angariar fundos para a Capela de S. José, de Alportel, Manuel Guerreiro publicou, em Fevereiro de 2014, colectânea das crónicas que, ao longo dos anos, foi mui agradavelmente inserindo em Notícias de S. Braz. Não é de muito louvar? Não é um exemplo a seguir pela nossa Junta e pela nossa Câmara? A lei proíbe? Mude-se a lei ou – que se me perdoe a sugestão – dê-se-lhe a volta por cima!
 
                                                                              José d’Encarnação

Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel], nº 225, 20-08-2015, p. 11.

 

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