quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A tristeza do parque vazio

             Dá-me tristeza ver um parque vazio, porque penso, de imediato, que uma das primeiras lutas das comissões de moradores após o 25 de Abril foi criar espaços para as crianças (e todos!) poderem espairecer, conviver, comunicar, saindo, como estávamos a sair, dum longo período em que tudo isso fora bem difícil de ser realidade.
            Cada bairro lutou pelo seu parque e, hoje, na verdade, não haverá lugar no concelho de Cascais que não tenha o seu parque infantil. E, além disso, quando se começou a pensar também nos adultos, criaram-se circuitos de manutenção. Recordo, no que respeita à freguesia de Cascais (perdoar-me-ão os senhores políticos se continuo a não aceitar a junção artificial das duas freguesias…), a luta que foi, no Outeiro da Vela, para haver aí um circuito, de que, confesso, não tenho ouvido falar e nem sei como ora está. Bem perto, também nesse bairro, para o pinhal do outeiro propriamente dito muitas foram as propostas – por concretizar.

Circuitos de manutenção
            Saberão os responsáveis como estão os aparelhos do circuito em muito boa hora instalado no paredão? Tenho pena de só mui raramente os ver utilizados. Como gostaria também de ver mais pessoas no que fica sobranceiro ao mar (localização excelente!), ao fundo da Rua da Torre!...
            Havia um bom circuito no Parque Palmela. Das últimas vezes que por lá passei, verifiquei – posso estar errado – que se deu prioridade às propostas ‘radicais’ para os jovens por sobre o ribeiro que o atravessa. O espaço merece, porém, maior publicidade, por constituir um recanto deveras aprazível e ali há lugar para velhos e novos. As iniciativas da companhia teatral Palco 13 (e outras) têm dado vida ao Auditório Fernando Lopes Graça e podem contribuir, na verdade, para se apreciar mais o parque. Gostaríamos, já aqui o escrevi, que se mudasse o painel da entrada, que encobre a singular minifloresta de dragoeiros, uma pérola a valorizar.

A necessária manutenção
            Falemos doutra manutenção. Não a das pessoas, mas a dos parques em si. Creio que estão agora sob a alçada das juntas de freguesia. Perdoem-me, novamente, os senhores políticos se mantenho a designação de ‘juntas’, por discordar, do ponto de vista da expressão, com a sua – para mim, injustificada – supressão.
            Além de me custar ver parques vazios, pelo que isso significa de ausência de tempo das famílias para deles usufruírem, custa-me também verificar amiúde que a manutenção dos aparelhos, salvo mui honrosas excepções, se tem esquecido. Compreendo que haja tantas outras prioridades, porventura até mais vistosas. Penso, porém, que – também neste caso – a diminuição da sua ocupação faz com que não haja quem se disponibilize a chamar a atenção das entidades quando algo carece de arranjo. O papel dos tutores de bairro da Cascais Ambiente poderá ser, nesse aspecto, de primordial importância, veiculando eventuais anomalias.

Urbanizações
            Sei que um projecto de urbanização tem de implicar sempre esses espaços de lazer. Recordo que foi uma das premissas que pusemos quando gizámos o Plano de Pormenor para a villa romana de Freiria, para além das hortas comunitárias que, pioneiramente, propusemos para as margens bem irrigadas do sempre corrente ribeiro que lhe fica aos pés.
            Permita-se-me que recorde, nesse aspecto, um projecto, polémico para a época, mas hoje, decerto, visto já com um olhar diferente: o do chamado Bairro J. Pimenta, no Alto da Pampilheira. Muitos prédios em altura, é certo; contudo, ‘respiravam’, respiram, com as zonas ajardinadas que foram deixadas entre eles. Aliás, João Pimenta – cujo falecimento não vi noticiado com as palavras de encómio que, apesar de tudo, eu creio que bem merecia – teve a seu lado uma equipa que viu para além do seu tempo. Cumpre fazer-lhe uma referência de boa memória, sobretudo se pensarmos quanto acabou por penar nos meses a seguir ao 25 de Abril, na impetuosa e desregrada vaga de ‘revolucionárias’ ocupações.
            E termino com um sorriso. A poente do «J. Pimenta» (é assim que se diz no dia-a-dia…) está o Bairro da Assunção. Tem também um parque infantil, mas as linhas urbanísticas (disseram-me os entendidos) já não foram tão ordenadas quanto as do ‘vizinho’. Entre os dois, a (hoje designada) Avenida Eng.º Adelino Amaro da Costa. E já se reparou que se ajardinou e se puseram bancos num espaço que ia ficar vazio? Solitários bancos, que sofrem com a poluição automóvel, mas se alegram, estou certo, por saberem que estão disponíveis para o velhote que, numa tarde calma, neles se queira sentar!...

                                                                      José d’Encarnação

Publicado em Costa do Sol – Jornal Regional dos Concelhos de Oeiras e Cascais, nº 111, 07-10-2015, p. 6.
Dois aspectos do referido recanto junto ao Bairro da Assunção.
Com vista de serra e vegetação abundante a rodeá-los,
os bancos suspiram por quem de uma pausa boa deseje usufruir!

 

Sem comentários:

Enviar um comentário