E
comentou comigo a sua vontade de reabilitar as tabernas como locais de
convívio, a lembrar os finais de tarde em que, após o calor da jornada, os
trabalhadores nelas se aju ntavam
para um copo, um naco de pão com queijo, quando não uma tira de toicinho. E,
até, de quando em vez, lá saía, natural, uma modinha para alegrar o coração ...
Outros
municípios tiveram a mesma ideia . Há
em Coimbra uma rota das tabernas e conceituada marc a
de vinhos acaba de lançar, no passado mês de Junho, o livro Tascas, em edição
bilingue (português – inglês), para dar a conhecer «as melhores tascas de
Lisboa». Da autoria de Tiago Cruz e Marco Dias, assinala, de cada tasca, a sua
história e características, tudo acompanhado de bem saborosas ilustrações. De
abrir o apetite, pois então! E lá se esclarece (pasme-se!): «Locais de comer e
beber, na sua grande maioria, as tascas lisboetas surgiram de carvoarias
fundadas por galegos no início do século XX. Era habitual terem uma sala
contígua em que se serviam vinhos e petiscos. Com o uso da electricidade e do
gás, o negócio do carvão morreu»… e ficaram os comes!
Comes
que nós muito gostaríamos que continuassem a ser os nossos, com nomes à nossa
maneira. Rio-me sempre, por exemplo, com a ementa que traz «gambas à la
guilho». Guilho é a cunha de aço para rachar cantarias, um dos objectos mais
usados por meu pai, que era cabouqueiro. Constitui, pois, pura anedota essa
‘tradução ’ do castelhano «al
ajillo», «ao alhinho»… mas que se lhes há-de fazer? E agora essa do «gourmet»
por tudo e por nada!? Para dar um ar modernaço, e a gente anda à procura da
truta em prato «gourmet» e… tem de fazer uma escavação
arqueológica! Para além de que, para ser «gourmet», tem de vir empratado a
preceito, que os olhos também comem e… o pessoal que espere!
Em
vez dessas modernice s, preferi,
pois, a tasca de Mérida, onde almocei no dia 18. Logo a ementa, um espectáculo!
Só transcrevo dois dos («primeros») pratos
e recuso-me a traduzir, que perderia a graça: «Fresco y apetec ible gazpachito extremeño, con guarnición de la
huerta de Doña Sole»; «Cremoso y original salmorejo cordobés con jamón ibérico
y huevo de gallina de campo de los de Otilia, la mujer que vive en frente de la
puerta falsa de mi madre». Não é
um mimo? E bem à espanhola se comeu, pois então!
José d’Encarnação
Publicado no quinzenário
Renascimento (Mangualde), nº
670, 01-10-2015, p. 12.
Zelia Marques Rodrigues 2/10 às 22:31:
ResponderEliminarDeliciei-me com a escavação arqueológica para encontrar a truta gourmet ...
Ana Teresa 2/10 às 22:43:
ResponderEliminarOs espanhóis são sempre muito pão, pão, queijo, queijo, não se metem cá com modernices de gourmets. Tasca é tasca, que eles chamam taberna.