segunda-feira, 27 de março de 2017

A suprema beleza do nu exposta na galeria do Casino Estoril

             Não pode dizer-se que o nu só agora esteja na moda ou que seja novidade a sua representação artística. Já os escultores da Grécia antiga se esmeraram em nos legar imorredoiras estátuas de deuses e de atletas no esplendor da sua nudez. Curiosamente, começam a propagandear-se espectáculos teatrais onde o nu parece ser o chamariz, mas não esquecerei, ao invés, a magnífica exposição que Brian Adams levou a efeito numa das galerias do Centro Cultural de Cascais, em que apresentou, sem vestes, algumas das nossas figuras públicas (Fig. 1). A própria Gisela João optou por dar ao seu mais recente disco o título «Nua» e não temos dúvidas de que é também de artista a foto que ilustra a capa (Fig. 2).
Fig. 1 - Cuca Roseta, por
Brian Adams (Outº 2014)

            O que Luís Viegas Mendonça ora nos mostra na galeria do Casino Estoril é, porém, o culminar de um aperfeiçoamento artístico do melhor que tenho visto.
            Primeiro, porque foi escolhido como tema o corpo feminino, sempre mais gracioso (queiramos ou não) do que a figura masculina; depois, porque se trata de 25 fotografias a preto e branco, onde o jogo da luz e da sombra desempenha relevante papel estético, para além – é claro! – da forma como os modelos se posicionam, a emprestar inigualável beleza ao conjunto, na medida em que – e esse é um aspecto deveras notável – se não tenha cedido um milímetro à fácil tentação de sugerir uma pontinha que fosse de erotismo. Nada disso! É a Mulher (exacto, com letra grande!), é o corpo da Mulher a transmitir-nos uma enorme sensação de serenidade, envolvido em ímpar halo de beleza (Fig. 3).
            Costuma dizer-se que é «exposição a não perder» e o apelo pode, por vezes, soar a corriqueiro ou banal. Aqui, porém, assume pleno significado: é mesmo exposição a não perder e a ser vista, aliás, sem pressas.
Fig. 4 - Luís Mendonça com Nuno Lima
de Carvalho, director da galeria
         O autor, Luís Viegas Mendonça (Fig. 4) – conta-nos a informação distribuída à imprensa –, nasceu em Lisboa, a 7 de Novembro de 1958. Iniciou-se na fotografia em 1974, como amador, tendo mantido essa actividade até hoje. De 1979 a 1983, trabalhou no Instituto de Oftalmologia Dr. Gama Pinto (fotografia médica). Simultaneamente, de 1981 a 1983, foi fotógrafo de moda para as Confecções Pulido e para a cadeia de lojas Chez Elle. Tem trabalhos publicados em livros de várias áreas, em brochuras publicitárias e em revistas da especialidade. É autor do livro “Arte Nua – A Beleza da Forma” e co-autor de “Olhar a Nu”. Foi distinguido, entre outros galardões, com o 1º Prémio, na categoria “Fashion”, dos 2016 Hotshoe Black & White Photography Awards (2016 Fashion Photographer of the Year).
         Uma nota muito positiva também para o catálogo, cuja abertura é da autoria do insigne fotógrafo António Homem Cardoso, que, na sua simplicidade (ia a escrever «nudez»), nos diz muito mais do que elaborados memorandos. O texto «NUS NO. (ponto)» constitui – não apenas na sagaz originalidade do título – um hino à beleza da arte fotográfica: «Os sonhos passam ao largo dos olhos, reflectem-se neles, para logo depois se fundirem nos tons quentes do leito da ternura». Lindo!
         A exposição «Arte Nua A Beleza da Forma» vai estar patente até 18 de Abril.

                                                  José d’Encarnação

Fig. 2 - Capa do CD «Nua», de Gisela João

Fig. 3 - Uma das fotografias da exposição «A Beleza da Forma»

 


 

 

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