És
capaz de, ao levantares-te para o almoço, sentir assim como que um tolher de
pernas, a necessidade de te espreguiçar, mas dizes logo que isso passa. Passa
hoje, passa amanhã, passa semanas a fio. E, de um momento para o outro, ai que
tenho de ir para o ginásio, que já não me aguento bem nas pernas!...
Temos,
na verdade, nós, os escritores, a vida bem simplificada, mormente se soubermos
lançar mão a todos os recursos que o dia-a-dia nos oferece, desde que,
repita-se, se não descure o físico, o movimento até à estante, o esticar as
pernas durante uns dez minutos para ver – nós, os burgueses… – se o jardim está
mais florido ou se as lagartas andam por i ou se o sr. Baltazar (o cágado)
decidiu já hibernar ou quer comida…
Apesar da sua (relativa) provecta idade, o Baltazar dá o exemplo: uma boa caminhada diária pelo jardim... |
Deu-me
para aqui, hoje, amigo leitor, e peço desculpa, porque necessito de lhe dizer
que é bem verdade aquele aforismo que reza assim: «Aprender até morrer!». E eu,
esta semana, aprendi duas coisas – e depois chamei-me de estúpido.
Primeira:
esqueci-me da palavra-passe para aceder às mensagens do telefone fixo; não a
apontara em sítio nenhum e já estava a dizer para comigo: «Ora, se precisarem
de mim, voltam a telefonar e escuso-me de me ralar. Acabaram-se as mensagens!».
Levanto-me e olho para o miserável do telefone e leio, escarrapachado a branco
sobre o negro, com todas as letras: MENSAGENS. Para
as ouvir, bastava carregar na tec la!
Tenho o aparelho há anos e lá estava eu sempre a discar o código!
Segunda:
gosto de beber, pela manhã, o meu sumo de laranja natural. Teoricamente, o
espremedor tem quatro ventosas na base, que o mantêm quietinho e eu, com mãos
ambas, acaricio a metade da laranja até nada lhe restar senão a casca. Acontec eu, porém, que as ventosas entraram em greve e o
espremedor deu em dançar e eu a aborrecer-me com a dança. Até que descobri:
agarra-me no espremedor com uma das mãos e espreme a meia-laranja com a outra, daáã!... Fácil, não é? Demorei anos a
descobrir! Como, só agora que as cruz es
começam a dizer que existem, é que lembro do exercício físico e da vantagem de
ir vasculhar as estantes de quando em vez!
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento [Mangualde],
nº 703, 01-03-2017, p. 11.
Pois,é assim!
ResponderEliminarSilva Pina, 3/3 às 8:31
ResponderEliminarComo diz a música; "a vida é assim...". Acho que o meu amigo está em muito boa forma... na prosa. Forte Abraço!
Teresa Silva, 3/3 às 9:02
ResponderEliminarAh, pois! O perpétuo movimento tem o seu fundamento! Toca a mexer!
Joaquim Carvalho, 3/3 às 9:39
ResponderEliminarPessoas especiais como você têm em si a essência da amizade, para perfumar o mundo com amor verdadeiro. Pessoas especiais são como anjos, com dedos de condão, para tocar com magia o semblante dos que amam. São dádivas de Deus, e eu tenho a sorte de o ter como amigo em meu caminho. Grande Abraço.
Margarida Lino, 3/3 às 15:32
ResponderEliminarInteressante, como sempre! Bj.
Fernanda Valdez Carreiro, 3/3 às 22:16
ResponderEliminarCaro Zé Manel
De manhã é que são elas - tudo anda à roda e são precisos mais sumos de laranja para pôr tudo em ordem! Pelo menos comigo assim se passa. Um abraço Edgar.
Aurora Martins Madaleno, 3/3 às 23:39
ResponderEliminarAcontece termos à mão e ao pé sem vermos nadinha... Depois, rimo-nos de nós próprios. É um sabor esta vida! Gostei de ler "O espremedor de sumos", claro. Isto faz bem à alma.