Creio
que os mui dignos administradores hão-de ter compreendido que, até do ponto de
vista financeiro – para já não falar da imagem da empresa –, tal atitude era
contraproducente, até porque, recorde-se, hoje os processos de comunicação por correio electrónico e por tantos outros
meios são tão fáceis e tão baratos (gratuitos até!) que os CTT, se não se acautelam,
correm sério risco de começar a ter prejuízo. Claro, isso corresponderia logo a
despedir pessoal e a recorrer ao Instituto de Emprego e Formação Profissional para ‘arranjarem’ estagiários e,
qual pescadinha de rabo na boca, lá voltávamos ao princípio de não termos
carteiros com vocação de carteiro –
que também para isso se carece de ter vocação !
Hoje,
porém, não quero criticar, mas louvar!
E
agradeço a Hans Daehnhardt , meu
amigo octogenário que vive em Hanôver há muitos anos, mas que adora Cascais,
onde passou boa parte da sua infância, o facto de, a propósito da notícia sobre
a caldeirada do 1º de Maio, me ter escrito a dizer que fora
várias vezes com Chico da Neta ao mar, a recolher os covos postos para a apanha
da lagosta. E acrescentou: «Quando nos covos estava um peixe, norma lmente um safio ou abrótea, ele oferecia-me
este peixe».
Mas não foi propriamente a história
dos covos e da abrótea que me encantou. É que Hans Wilhelm Daehnhardt morava na Rua Marques Leal Pancada e, um
dia, recebeu uma carta com o seguinte endereço: Rua Marquês da leal Pancadaria!
Se fosse hoje, voltava para trás, porventura com a anotação
de que, em Cascais, não há «leal Pancadaria»; e, quando a há, é sempre…
desleal!...
Quando fui respons ável
pelo programa ERASMUS na minha Faculdade, correspondia-me naturalmente, também
por via postal, com os meus colegas de universidades estrangeiras. Nem sempre
eles compreendiam não apenas o sistema dos endereços portugueses como, por
vezes, algumas das letras manuscritas. Lembro-me de que «Largo da Porta Férrea»
foi, um dia, transformado em «Largo Porto Ferrero», se calhar por, alguma vez,
ter aparecido lá por casa uma garrafita de Porto Ferreira. Portanto, Porta
Férrea é coisa que lembra prisão e Porto Ferreira sempre agrada muito mais (sem
desprimor das outras marc as, claro
está!).
Para mim, no entanto, o caso que
ilustro e que um amigo me fez chegar às mãos é que me encheu as medidas! A
carta vem de Granada (Espanha) e o endereço que traz é: ECA QVVIROZ; e o
topónimo Aldeia de Juzo foi transformado (pasme-se!...) em ALGIA F 420! Neste
caso, o código postal vinha certo e, apesar do estranho topónimo, o carteiro
não se deu ao trabalho de devolver!... Outros tempos!
Um último caso:
Ditei pelo telefone a minha morada à
secretária do senhor vereador de uma câmara municipal de Portugal. E, apesar de
o número ter sido escrito 80 i 9 (por 89…), a encomenda chegou direitinha!...
80 i 9 não lembraria ao Diabo, mas que aconteceu aconteceu! A senhora deveria
ter passado uns tempos na Inglaterra ou no Canadá, onde os endereços são uma
verdadeira charada. Tenho um amigo que vive em Toronto e o endereço termina
assim: «M3J 1P3. Canada». Não admira, pois, o F 420 nem o 80 i 9!...
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal [Cascais],
nº 187, 17-05-2017, p. 6.
Sem comentários:
Enviar um comentário