Bem
fez a nossa mui querida amiga Lídia Jorge quando, no seu «O Dia dos Prodígios»
pôs aquelas alminhas a falarem bem à algarvia, até com ponto final onde faziam
pausa, mesmo que gramaticalmente não desse jeito nenhum. E Julieta Lima, de
Olhão, ora radicada pelo concelho de Loulé, autora, por exemplo, do livro
«Contos por Cordas» e doutros, em que pôs a falar à moda de Olhão aqueles
marafados todos!
Temos
um «Dicionário do Falar Algarvio», do Eduardo Brazão Gonçalves. A 2ª edição, aumentada, que é a que eu tenho, data de Dezembro
de 1996, apoiada pela Direcção Regional
do Algarve do Ministério da Cultura. Mas já Estanco Louro, no seu «O Livro de
Alportel» sabiamente ensaiara a apresentação
de um vocabulário dito «alportelense», que, na reedição
feita pelo município em 1986, ocupa as páginas 211 a 278.
Abençoados!
Aliás,
tenho ideia que tudo isso interessou
– e interessa! – grandemente o nosso Padre Afonso Cunha, que anotava (disse-me)
quanto eu apontava de novidade lexical na coluna «A Retalho» do VilAdentro.
Pois
aí vão mais algumas dessas falas que me recordo de ter ouvido a meus pais e avós:
–
Ele disse que vinha de témêdia (= de manhã, até ao meio-dia);
–
O moço pequeno está cheio de abábuas, mulher! (aqueles altos devido a picadelas
de insectos);
–
Ena, compadre! Até fiquei azamboado! (assim como não saber bem onde se está,
com a cabeça à roda);
–
O homem saiu desostinado de casa (= parecia um doido, bem depressa, com vontade
de ir fazer alguma!...)
–
Pois, ando cá hoje com uma dor no ortelho!... (por artelho, tornozelo).
E
com essa verdadeira dor no ortelho hoje me vou!...
José d'Encarnação
Publicado em Noticias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº
272, 20-07-2019, p. 13.
Lídia Jorge, 04-08-2019, 00.45
ResponderEliminarViva, José d'Encarnação
Bom Verão para ti e para os teus.
Acabo de ler. Tem muita graça, sim, o falar algarvio que vai passando.
Mas a música cantada das palavras e das frases, uma espécie murmúrio grosso,
futural, às vezes grotecto, esse continua. A melodia da fala algaavia permanece.
Já os vocábulos, felizmente, vão sendo corrigidos, quando correspondem a deformações.
Outros ficam. Muito giro é o facto de, mesmo sendo do conhecimento geral
de que a palavra arjamolho é uma corrupção de alger+ molho, todos digamos
arjamolho! Eu faço e digo assim, acho engraçado usar a corruptela.
Espero que me tomes por boa algarvia.
Abraço amigo, da tua amiga
Lídia.
Claro que és a nata dos escritores algarvios! Acabo de redigir um artigo para o boletim do Arquivo da tua Loulé, a evocar Romero Magalhães. Incluo-te, naturalmente, entre os algarvios tresmalhados, os que nas décadas de 50 e 60 demandaram as universidades de Lisboa e Coimbra e por lá se ficaram, sempre com o Algarve no coração. Um texto que me deu gozo escrever.
EliminarBeijinho e votos retribuídos.