–
Parabéns! A senhora era a única que, na sala, estava a ler um livro, toda a
gente via era os telemóveis!...
Rosa
admirou-se, sorriu, agradeceu e concordou.
O
Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas (Sintra) ufana-se de ter reunido, ao
longo dos anos e muito por acção do seu responsável, Dr. Cardim Ribeiro, bibliófilo
militante, uma excepcional biblioteca sobre a Antiguidade, inclusive com
volumes de edições raras, seculares. À entrada desse espaço modelar, pronto a receber
investigadores, uma placa em latim reza assim: LEGE
· LEGE · LEGE · RELEGE – que é como quem diz: não te canses de ler!
Hoje,
a leitura começa a ser feita em «tablets» e, na escola, os meninos aprendem a
manuseá-la, até porque inclusive o tradicional TPC lhes é enviado por correio
electrónico. Compreende-se e aceita-se a inovação. Isso não está, porém, a impedir
– e ainda bem! – que, em Centros de Dia e noutros locais comunitários, se haja
instituído a «Hora da Leitura», amiúde protagonizada por um escritor. Uma
forma, portanto, de contrabalançar o avanço do digital em exclusivo e de, por
outro lado, se ensinarem os mais novos a sentir o cheiro do papel impresso e a
palpar-lhe a textura.
Custa-me
passar junto de contentores do lixo e deparar com caixotes de papelão cheios de
livros ou mesmo livros a monte, parte deles de colecções quase completas. Outro
dia, eram mesmo os volumes de uma enciclopédia. Recolho-os por norma, faço a selecção,
passo em revista as entidades passíveis de os receber e… começam as diligências
da distribuição, evitando, pela diplomacia, eventuais relutâncias, mormente por
parte do pessoal nem sempre vocacionado para a função que lhe cometeram e que,
por isso, vê num novo volume apenas mais uma entrada a inserir no ficheiro!... Recordo
o dia em que técnicos duma biblioteca foram a umas águas-furtadas onde, para
entrega gratuita, havia uma colecção (rara em Portugal) de livros de bolso ingleses,
mais de um milhar, tudo bem arrumadinho… e opinaram não ter qualquer interesse.
Eram as águas-furtadas servidas por estreita escada quase em caracol…
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 757, 2019-07-01, p. 11.
Madalena 9 de julho de 2019 às 18:22
ResponderEliminarEsta chamada de atenção para a leitura em livro e para o destino dos livros, dá-nos a medida da sensibilidade do autor deste blog. De facto um livro é muito mais do que um conjunto de folhas impressas, de maior ou menor qualidade gráfica. O miolo é que importa, a alma de quem o escreveu e teve a ilusão de comunicar com alguém, com muita gente, de forma harmoniosa. Também eu já sofri ao ver livros a vender numa montanha desorganizada, no chão, alguns esventrados pelos maus tratos e pelo deficiente manuseamento. E poucos sabiam que estavam a lidar com o maior tesouro da Humanidade, um bem que nunca desvaloriza.
Um abraço Amigo.
Bem haja, mui querida Madalena, por todo o apoio. Tal como um autor de livro, também o escrevinhador num blogue, como eu, gosta de saber que as suas ideias têm eco e a sua escrita leitores!
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