Ocorreu-me
esta passagem da canção, ao ver a
capa do livro «Natal Verde», que
reúne os 30 postais natalícios que, entre 1990 e 2019, Jorge Paiva enviou pelo correio,
em remessas da ordem dos 3000, para amigos e correspondentes em mais de uma
dúzia de países. Aí se apresenta o autor a minuciosamente observar um candeio,
como que a perscrutar a sua saúde e a sonhar, quiçá, com o que dali virá a
sair, se um cacho de azeitonas bem formadas, sem as máculas que as impurezas do
ar lhe poderão inocular…
Congratulo-me
vivamente com a edição a que, em
muito boa hora lançaram mão a Imprensa da Universidade de Coimbra, em estreita colaboração com o Exploratório Ciência Viva de Coimbra e a
Ordem dos Biólogos.
Não
há no livro apenas a reprodução
desses sugestivos postais – a que, aliás, nos temos referido aqui – mas, e não
é de menos importante leitura, a entrevista com o biólogo inserta no final. Tem
título que é grito de alerta: «Não vamos conseguir sobreviver na terra sem a
floresta». As florestas, explica, «são os ecossistemas de elevada
biodiversidade, onde estão as maiores fábricas de oxigénio e onde estão os
maiores e mais eficazes despoluidores». E o grave é que «a gaiola onde estamos
metidos, que é a Terra, só tem 20 % da floresta que já teve». O aquecimento
global não resulta apenas da poluição
industrial e dos automóveis, mas da crescente falta desses indispensáveis
despoluidores.
Ouvia
eu, em pequenino, que o mundo iria acabar várias vezes: uma, com a água, o
dilúvio universal, narrado na Bíblia, confirmado noutras teogonias e até por
testemunhos arqueológicos; a segunda, pelo fogo. E, quando vemos o que acontece
na Austrália e na Califórnia; quando ouvimos Jorge Paiva falar em piroverões
(verões escaldantes…), há-de reflectir-se que estamos, na verdade, a correr mui
sério risco de essa profecia se concretizar. Se a espécie humana se poderá
extinguir como outras espécies? Sim, Jorge Paiva tem a certeza que sim.
José d’Encarnação
Publicado em Renascimento (Mangualde), nº 769, 2020-01-15, p. 11.
Regina Anacleto
ResponderEliminarsábado, 18 de Janeiro de 2020 18:48
Gostei muito das considerações que tece em torno do “Natal Verde”. O minguar da floresta no planeta é verdadeiramente catastrófico. Os resultados, já os não vejo eu, mas os meus netos vão senti-lo.
Helena
ResponderEliminarNão sabia o que era o candeio...mas graças a este excelente apontamento fiquei a saber dos raminhos da paz, da floração e dos frutos esperados. Estamos todos ansiosos que as boas práticas humanas preservem matas, campos e olivais saudáveis...que as florestas inspiradoras cresçam e ajudem a respirar oxigénio, ideias despoluídas. Bem haja por estes pedaços de prosa sempre cheios de ensinamentos.