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na 1ª página, a mais de metade, a grande panorâmica sobre todo um espaço verde,
a contrastar com o que é mais habitual apresentar de Oeiras, os contínuos aglomerados
prediais sempre a crescer, os ninhos de empresas quais cogumelos... Não. Ali é
um enorme espaço verde. E, em caixa, ao alto, a remeter para a p. 7: CONSEGUIMOS / VAMOS RECUPERAR / PATRIMÓNIO NACIONAL / Casa da Pesca · Cascatas · Pombal · Casa do Bicho da Seda.
Na
pág. 3, o editorial, assinado por Isaltino Morais, tem como título «Património:
o dever de não esquecer o nosso legado». Em realce a assinatura do auto de
cedência ao Município, por 44 anos, da utilização
de parte da antiga Estação Agronómica
Nacional, onde há a perspectiva de investir oito milhões de euros na recuperação do conjunto
monumental em que se inclui a Casa da Pesca.
De outro protocolo
se fala, assinado com o Ministério da Defesa, tendo em vista «a manutenção e dinamização,
para fruição pública, do Forte do Areeiro,
onde será instalado, em breve, o Centro de Interpretação
da Linha de Fortes da Defesa da Barra».
Também
a igreja e o convento da Cartuxa fazem parte dos projectos camarários, assim
como a intenção de «devolver o mar e
o rio aos oeirenses».
Esta
motivação política de uma cidade ou
vila junto ao mar ou a um rio deles
vir a usufruir e não a ser deles separada tem sido adoptada um pouco por toda a
parte em Portugal, e a criação do chamado
«paredão» em Cascais é disso um bom exemplo. Lisboa, mormente depois da Expo
98, compreendeu-o cabalmente e iniciou, no seu trecho poente, todo um conjunto de arranjos urbanísticos que permitiram à população e aos visitantes essa comunhão com o Tejo que, até
há bem poucos anos, só era possível numa nesga estreita, em frente ao Terreiro
do Paço.
Congratulamo-nos.
Em
Cascais, o passeio pela orla marítima desde a vila até ao Guindo, hoje, assaz
concorrido, oferece espraiar de vistas pelo Oceano além.
Voltando
a Oeiras, que foi – importa dizê-lo – o arrabalde de quintas mais próximo da
capital e onde se ergueram palácios ligados à realeza, gostaríamos também de
ter visto integrada nos planos camarários a Quinta Real de Caxias, sobre que,
aliás, a própria Câmara publicou, em Setembro de 2009, magnífico volume com o subtítulo
«História, Conservação, Restauro».
Aí se dá miúda conta não apenas da sua história mas também do ingente trabalho
de recuperação (da cascata, de estruturas,
do sistema hidráulico, das esculturas…) ali levado a efeito, ao longo de 20
meses, por mui laboriosa equipa chefiada por Carlos Beloto. Para apoio a essa actividade
se chegou a constituir a Associação
de Defesa, Recuperação e Estudo do
Património de Caxias, apresentada a 30 de Novembro de 2016, no Palácio Flor da
Murta, em Paço de Arcos. Faltaram-lhe, porém, os meios prometidos para levar a
cabo os seus objectivos e também se verificou menor interesse pela Quinta, de
forma que Carlos Beloto apresentou, a 2 de Janeiro de 2019, circunstanciado relatório
da actividade desenvolvida e saiu. Ao que parece, a Quinta Real não tem agora
quem a cuide.
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal (Cascais), nº 311, 2020-01-15, p. 6.
A recuperação de património nacional é sempre uma notícia agradável. É um crime permitir a degradação de monumentos em espaços privilegiados e que são legados de gerações. Se a Câmara Municipal de Oeiras vai investir na reabilitação da Casa da Pesca e envolventes belíssimos, em parte da Estação Agronómica Nacional, é motivo de aplauso. Um aplauso também para este belo texto que, deslocando-se umas linhas do concelho de Cascais, dá atenção ao que de mais importante se desenrola no concelho vizinho, porque as pessoas não vivem em compartimentos estanques. Parabéns.
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