De novo a falar de
rotundas! Agora, sobre a única existente na 3ª circular, em Cascais, no entroncamento
com a Rua de S. Bernardo, para o Bairro de S. José. Também para a louvar,
porque descongestionou grandemente o trânsito que os semáforos ali existentes acabavam
por ordenar mas eram… uns empatas! Boa ideia foi, deveras apreciada pelos
muitos automobilistas que por ali circulam diariamente, ou não fosse essa a via
de escoamento mais utilizada para sair de Cascais Ocidental!
Não
é, todavia, sobre a evidente oportunidade da rotunda que ora me apraz reflectir!
Levantou-se aí uma parede do lado nascente e, em vez do branco homogéneo e
puro, houve por bem a Junta de Freguesia de Alcabideche (desse lado, já é dessa
freguesia) sugerir à Câmara que ali se ostentasse um exemplar da arte urbana,
que Cascais tem abraçado com enorme entusiasmo (veja-se a delícia que são,
nesse aspecto, as paredes do Bairro da Torre!). Se bem o pediu, melhor o
recebeu e o Município encomendou um painel ao conhecido luandense Nuno Nomen,
que vive em Carcavelos, um dos pioneiros da arte em grafitti.
E o que pintou
Nomen?
As
duas principais ‘riquezas’ de Alcabideche: uma cultural e outra desportiva!
A
cultural prende-se com a evocação do poeta árabe Ibne Mucana, natural de Alcabideche,
o primeiro que, ainda no século XI, falou da existência de moinhos de vento na
Europa e é por isso que, abundante como era em moinhos, Alcabideche escolheu há
muito o moinho como seu ex-líbris. E lá está o monumento que foi dedicado ao
poeta e a transcrição do verso referente à sua terra natal.
A
riqueza desportiva é o autódromo. Apesar de já não ser palco das grandes provas
de Fórmula 1, continua a ser pista deveras apreciada para os treinos das
grandes marcas e para provas de outras modalidades automobilísticas.
* * *
Não
vou, todavia, fugir de Alcabideche, mormente agora que já se sabe dizer que é
aí que a A16 começa.
Naturalmente
devo fugir, isso sim, de inoportunas publicidades, que a ética expressamente mo
proíbe. Por isso, aliás, devo confessar à partida, sob juramento se necessário,
que ninguém me encomendou nada do que vou escrever a seguir. E se o meu escrito
incitar, como espero, o leitor a ir ver o que em palavras pobres descrevo, não
é com o intuito (longe de mim!) de lhe sugerir que compre, compre, compre!...
Aprecio
o gosto que ora se vai encontrando aqui e além para transformar o ambiente das
casas de banho, decorando-as com motivos simpáticos, agradáveis à vista. Assim
no CascaiShopping. Contudo, para mim o que mais se deve aplaudir é a decoração
da parede do túnel da entrada poente (e chamo-lhe assim para não se confundir
com a entrada poente larga). Uma pessoa entra e… está numa das praias de
Cascais! O mar à frente, azul, plácido, naquela visão serena que nos apetece e
que tanto nos faz ter saudades quando estamos uns dias sem a ver! O mar, a sua
vastidão!... E então não é que, de seguida, parece que pisamos o imenso areal
do Guincho, a serra de Sintra ali a mergulhar no Atlântico?!... Maravilha!
José d’Encarnação
Publicado em Costa do Sol Jornal [Cascais] nº 317,
12-02-2020, p. 6.
Belo e oportuno texto. Diferentes manifestações de arte bem integradas nos cenários. "Ó homem de Alcabideche/que não te faltem sementes/que o labor do teu moinho/cuja vela o vento mexe/possa ter o remoinho/que dispensa as correntes". O início do poema de Ibn Muquânâ na tradução de Adalberto Alves em O Meu Coração é Árabe. E parabéns por esse olho treinado para os pormenores que às vezes escapam aos distraídos, como eu, e pelas mãos ligeiras no acerto do teclado.
ResponderEliminarBem haja, Madhelena!
Eliminar