quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Professora, que dialecto é esse?


            «Um dia na mata, estava a comer um seringonho, uma canita ferrou-me uma dentada que me fez um bechoco. Deu-me a ravasca e, à rebendita, dei-lhe uma cachamorrada que ela até andou de rabeleta no rasquilho! Fiquei mesmo marafado».
            Assim começa o texto, datado de Faro, 2003/05/06, que Maria Herculana decidiu partilhar, creio que na Internet, e que me chegou às mãos. Um texto de quase duas páginas, com glossário no final, todo ele cheio de ‘algaravismos’, uma algaraviada pegada, que só mesmo com glossário é que o comum dos mortais chega lá!
            Desse falar algarvio aqui temos dito, na vontade de que essa terminologia não desarvore por i adiante, alvoriada, e nos deixe a todos charingados com isso, sem preparos nem vontade de chacolejar o que quer que seja!
            Já viram em que preparos ficaríamos, azoados de todo, incapazes de dar uma tarruta meiga ao netinho? Nam, nada disso! Temos que brandir armas para que não nos trompiquem, obrigando a falar como os senhores doutores de Coimbra!...
          Outro dia, intitulei uma crónica «Como é que eu os vou trompicar?». E muita gente achou estranho o verbo, até foi ao Dicionário da Academia e… nada! Mas percebia-se pelo contexto o que eu queria dizer: enganar sorrateiramente, pela calada, toma lá que já almoçaste!
            Almocemos, pois, à nossa maneira: uns carapauzinhos alimados, umas zeitonitas retalhadas ou um cozidinho de grão bem acondicionado na tarreta! Vamos nessa!

                                               José d’Encarnação

Publicado em Notícias de S. Braz [S. Brás de Alportel] nº 279, 20-02-2020, p. 13.

2 comentários:

  1. Texto muito interessante que me faz vir à lembrança fala que ouvi e usei em pequeno na minha terra de S. brás.
    Bem hajas José D'Encarnação!
    Um abraço
    Victor Brito

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  2. Uma delícia de crónica. Estava embalada nesses algaravismos gostosos, a pedir ainda mais. Gostava tanto de um novo texto como este, queria lá saber se ficaria azoada, sem capacidade para uma tarruta às crianças!.. Só pelo prazer de saborear prosa desta, tão apetecida como os alimados ou o cozidinho de grão, correria à procura sem medo de ficar toda marafada. Abraço de parabéns.

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