Dia 31 – Ana Lains
Na
noite do dia 31, o espectáculo deveras memorável de Ana Lains.
É
fadista, sim, de pleno direito («Eu não sou fadista – garantiu – mas gosto de
cantar o fado!»), mas tem alma de lutadora pelas nossas raízes lusas musicais.
Acompanharam-na Fernando Pereira, Fernando A. Pereira, o Grupo de Cantares de Évora,
Silvestre Fonseca, Luís Represas (tocante, improvisado e lindo, o dueto em
«Vieste tu, feiticeira!»…), Mafalda Arnauth, Ivan Lins, As Adufeiras de Idanha-a-Nova.
Um
encanto ouvir Ana Lains, uma voz límpida, uma dicção exemplar! A noite foi de
emoção, os 20 anos de uma carreira que começou exactamente ali, no Salão Preto
e Prata do Casino Estoril. «Eu não consigo controlar este choro», «A Lara vai
me matar, tanto que cuidou em maquilhar-me!»,«Ai, estes sapatos apertam!»… Uma
Senhora! «Aplausos para Dulce Pontes!», pediu, depois de ter cantado a sua
belíssima versão da Canção do Mar. Arranjos ímpares, invulgares, na sua maior
parte do marido, Paulo Loureiro, exímio também no piano. E aquela inesquecível
«Senhora do Almortão», com o adufe erguido a instrumento nobre!?
Uma
equipa que se sente equipa mesmo para nós, os espectadores electrizados por
tudo quanto, das 22 e 20 às 24 e 40, naquele palco em indeléveis traços se
desenhou!
Com Luís Represas |
Com Ivan Lins
|
Com as Adufeiras de Idanha-a-Nova |
(Fotos gentilmente cedidas pelo Gabinete de Imprensa da Estoril-Sol)
Dia 1 – Espaço TEC
Achou João Vasco
que ‘9 + 2’
era o título ideal para contar o que foi a odisseia do Teatro Experimental de
Cascais enquanto esteve no Teatro Gil Vicente: de 1965 a 1974 e dois anos mais
tarde, quando se logrou a reconciliação.
Diremos
que também nessa evocação de final da tarde de sábado, a emoção imperou. Não
apenas por elementos do Grupo Cénico da Associação dos Bombeiros haverem
recriado uma amostra da clássica Senhora dos Navegantes, o nosso miminho
teatral ou por Maria Emília ter recitado, como ela sabe, um poema sobre a vila,
mas porque João Vasco não deixou de contar o que foi a vida atribulada desses
primeiros nove anos, quando a companhia ainda era vista com desconfiança e,
sobretudo, por, no 24 de Abril, os ‘revolucionários’ terem agarrado em todos os
pertences do TEC, sob o pretexto de que eles, os do TEC, eram fascistas e
tinham recebido o Américo Tomás e o Moreira Baptista, e terem levado, aos
pertences, a trouxe-mouxe para uma arrecadação de caixões, quando o TEC andava
em digressão por Moçambique!...
Apesar
de tudo, mau grado a censura, que exigia ver o ensaio geral, sublinhou-se o apoio
incondicional de Serra e Moura (da Junta de Turismo) e os êxitos em que, nessa
vetusta sala, tantos vultos grandes do nosso Teatro acabaram por brilhar.
Assim
se enterraram machados de guerra; assim se mostrou como é bom ouvir as
pancadinhas de Molière e aplaudir os actores.
Bem
hajas, João Vasco! Bem haja, Carlos Avilez! Bonita, a saudação exarada no convite:
«Saudamos
o Teatro Gil Vicente em Cascais na passagem dos seus 150 anos de existência ao serviço
da Cultura. Foi a nossa primeira casa em 1965. Foi ali que tudo começou. As
nossas saudações».
Dia 5, em Oeiras
Fui ao CASO - Centro
de Apoio Social de Oeiras (do Instituto de Acção
Social das Forças Armadas), para a tertúlia das quartas-feiras, na biblioteca.
Sala cheia, tanto de
residentes como de seus amigos e familiares. Desta feita, a tertúlia literária
prendia-se com a apresentação do livro My
Way (O Meu Caminho), biografia do Tenente-Coronel Victor Brito, um dos
vultos maiores da nossa aeronáutica. Não o digo por ser são-brasense, meu patrício
(ou conterrâneo, se se preferir), mas porque, na verdade, depois de ter
prestado serviço na Força Aérea Portuguesa, onde brilhantemente se distinguiu
nas mais diversas campanhas, nomeadamente no Ultramar, foi pioneiro, ao fundar,
em Cascais, a Escola de Aviação Aerocondor, destinada a formar pilotos
aviadores. A primeira escola do género, a nível nacional e internacional. Num
espírito muito diferente dos aeroclubes, a Aerocondor formou já mais de 6000
pilotos de mais de 20 nações.
Victor Brito foi pioneiro
também no combate a incêndios, para que fez questão em formar pilotos e em
pugnar pela necessidade de os meios aéreos de combate aos fogos serem anfíbios.
Pioneiro igualmente no que respeita à manutenção das aeronaves, pois foi ele
quem escreveu o primeiro manual para esse efeito, no que viria a ser imitado
depois.
O livro e o
biografado foram apresentados pelo seu autor, o comandante sénior da TAP Dario
Artilheiro, que teve palavras de largo encómio para o que fora a experiência de
ouvir as histórias que Victor Brito singelamente lhe contara, sem se vangloriar,
porque, como o próprio amiúde teve ocasião de repetir, «o homem é o homem e as
suas circunstâncias». Um convívio, acentuou o comandante Dário, que lhe fez granjear
para com biografado «a mais profunda admiração».
. Recordaram-se, por
exemplo, os tempos em que os aviadores, para agradarem às namoradas, se
decidiam a sobrevoar-lhes a casa a baixa altitude. E contou-se como numa casa
de Cascais (se não erro), quando tal acontecia as moças pequenas fugiam para
debaixo da cama com medo e só de lá saíam quando a mãe vinha dizer-lhes: «Podem
sair que o maluco do aviador já se foi embora!».
A tertúlia foi
dinamizada pelo Coronel Barão da Cunha. Também interveio, entre outros, o
General António de Jesus Bispo, que classificou Victor Brito como «excelente
aviador, com muita habilidade, educado».
Apreciei
a sessão e agradou-me vivamente saber que, no CASO, essas tertúlias literárias
eram habituais e logo ali se anunciou quem viria da próxima vez. De aplaudir!
José d’Encarnação
O Comandante Sénior Dario Artilheiro, o autor de «My Way», no uso da palavra |
Coronel Victor Brito e Coronel Barão da Cunha |
- As estrondosas passagens baixas e a alta -velocidade, verificaram-se um pouco mais a Sul, em Faro, terra da minha namorada Ivone.
ResponderEliminar- O lançamento do livro MY WAY em Cascais vai ter lugar na Messe da Marinha,20.00 hrs, dia 3 de de Março próximo.