Não dispõe o nosso Município de
uma revista ou boletim cultural. Compreende-se, de certo modo, essa ausência,
não apenas devido aos encargos financeiros que poderia acarretar, mas também
porque a existência – quase ímpar a nível nacional – duma agenda cultural
mensal em papel, a São Brás
Acontece, supre adequadamente, com as habituais rubricas nela incluídas,
essa necessidade de olharmos para tudo aquilo que acalenta a nossa identidade.
Acontece,
porém, que outra razão se poderia aduzir: é que o nosso mensário Noticias de S. Braz, com o seu vasto
leque de colaboradores, continua a preencher eficazmente o que poderia ser
considerado uma lacuna.
Em
primeiro lugar, o espaço com que privilegia a poesia popular – e os poetas são
aqueles que, bem à sua maneira, nos comunicam os sentimentos que a vida e os
acontecimentos do dia-a-dia lhes despertam.
Depois,
porque sobre a história local e regional não falta quem, com saber e bases
documentais, nos vai mimando com textos que devem ser religiosamente guardados
e tidos em consideração. Aliás, decerto os responsáveis pela Biblioteca
Municipal e pelas bibliotecas de associações e entidades disso se devem ter já
apercebido e, antes de arrumarem cada exemplar na colecção, terão o cuidado de
registar o que ele detém digno de realce para constar nos ficheiros.
Veja-se,
a título de exemplo, a edição de Maio (32 páginas em plena pandemia é obra,
quando, um pouco por toda a parte, a imprensa local suspendeu a publicação, à
espera de melhores dias!...):
–
Com o seu habitual saber, José do Carmo Corria Martins brindou-nos (p. 25) com
o texto nº 10 da série «Há 100 anos», abordando, com muita oportunidade, a pneumónica
de 1918, no âmbito das adversidades por que S. Brás de Alportel passou para se
afirmar como concelho. Uma página a guardar. Religiosamente, repito!
–
Adérito Vaz é outro dos autores a ter em conta. Desta vez, iniciou uma série
que promete, sobre «As carroças no Algarve que o tempo eliminou» (p. 13).
Presta-se o título a duas interpretações: o tempo eliminou as carroças ou o
tempo eliminou esse Algarve típico? Natural, pois, o apelo a que lutemos contra
essas duas possíveis eliminações. Assim, o Museu do Traje já guardou algumas
carroças; importa que se faça o inventário das que porventura por aí ainda
existam e se procure forma de as reabilitar, porque serão sempre apreciadas em
desfiles históricos, por exemplo. E que bonitas que elas são! Não há uma igual
a outra!
–
António Cabral continua a olhar a toponímia (p. 4) e faz muito bem, porque as
andanças da toponímia mostram as andanças do poder!...
–
Lina Vedes, que evocou «Costureiras e Modistas» (p. 18); João Leal, com a sua simpática
rubrica «Livros que ao Algarve importam» (p. 99; Maria José Aresta, em «Memórias
que o tempo não apaga» (p. 20); e também João Romero Chagas Aleixo, que iniciou
agora uma evocação do Aleixo (p. 24) – constituem alguns dos outros autores que
dão cartas no âmbito da preservação da nossa identidade cultural.
Amigo
e Senhor Director, que não lhe doam as mãos nesta orientação tão sábia!
José d’Encarnação
Publicado em Noticias de S.
Braz [S. Brás de Alportel] nº 283, 20-06-2020, p. 13.
Muito obrigada, Caríssimo Amigo. Tão rico e importante que é, o nosso património! É ele que nos identifica. Um povo sem a sua memória não tem passado, nem presente, nem futuro ...
ResponderEliminarGostei muito deste texto. Por ele conheci o que se vem publicando em São Braz de Alportel pela agenda cultural São Braz Acontece e pelo mensário Notícias de São Braz. E de tudo o que de importante foi referido, detive-me no pitoresco das carroças, tão coloridas na evocação que impõem de tempos que já passaram mas nem por isso devem morrer. Fundamental a sua preservação. Bela prosa, meu Amigo.
ResponderEliminarMuito bem!
ResponderEliminarÉ um merecido ato de gratidão que o meu grande Amigo, Professor José d'Encarnação, acaba de fazer ao NOTÍCIAS de S.Brás e aos seus competentes colunistas nos quais ele próprio se inclui. Bem hajas!