Contam-se
por centenas as vezes que estive no Salão Preto e Prata do Casino Estoril para assistir
aos mais variados espectáculos. Nenhum, porém, logrou ter a carga emotiva que
por completo o envolveu no passado domingo, dia 13.
O espectáculo
solidário «Paz na Ucrânia» mereceu lotação quase completa, devido ao
proselitismo dos rotários e seus amigos.
Coube, de facto, ao Rotary Club
de Oeiras – que agregou a si os clubes da zona (Algés,
Alfragide, Carnaxide, Cascais-Estoril, Parede-Carcavelos e Sintra) – a iniciativa,
prontamente acolhida por uma série de entidades que decidiram estar presentes
em palco: Clube de Carnaxide de Cultura e Desporto, Escola de Dança Eva Vieira
de Almeida, Sítio Azul (Academia de Dança do Estoril), Mais Música (Grupo Juvenil do Coro de Santo
Amaro de Oeiras), Oeiras Dance Academy, ArteMove Escola de Dança, Lev’Arte,
Mosaico Espiritual.
Não será exagero afirmar que, se
habitualmente interpretam bem as peças que escolheram para apresentar, os
corpos de baile esmeraram-se, numa entusiástica atitude de quem sabe que,
através da dança, das singulares coreografias, da sua entrega, se está a mostrar
que a Paz é possível e que a Arte, em todas as suas múltiplas manifestações,
pode eficazmente contribuir para a maior união entre os povos. Vimos danças bem
variadas ao som de bem variados géneros musicais. E que bem que se dançou! E
como o espectáculo se desenrolou sem pressas nem atropelos mas num ritmo
pausado, como quem diz temos pressa de ver a Paz mas queremos tranquilamente
fazer saborear os movimentos artísticos que mui gostosamente ensaiámos. Pela
Arte vamos lá!
Quase no final, a actuação do Coro dos
Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra (desta feita de capas caídas, em
luto pelo presidente da Associação Académica que nessa tarde morrera em consequência
dum acidente). José Afonso, Luiz Goes – por eles – estiveram connosco, na
proclamação dos valores da Amizade e da Luta sem tréguas pela Liberdade: «Traz
outro amigo também!», junta-te aos que sentimos a dor dos inocentes. Momento
forte este, que as capas negras ainda mais robusteceram!
Houve, todavia, quatro outros
momentos que provocaram calorosos aplausos e não permitiram ignorar uma que
outra lágrima furtiva que teimou em escorrer por muitas faces presentes: as
«Estrelinhas», bonito nome dado a jovens, a meninos e a meninas da Escola
Ucraniana do Estoril, envergando os seus vistosos e garridos trajos típicos,
actuaram no princípio, mais duas vezes entre os conjuntos (como eloquentes
páginas de separação entre os capítulos dum livro) e, apoteoticamente, no final!
Uma alegria esfusiante, as cores amarelo e azul clara da bandeira voltejavam, o
ritmo electrizava. Quanto não gostaríamos que fossem esses ritmos e não os das
bombas nem o sinistro ronco dos aviões em voo rasante a ecoar por terras de
Ucrânia! Quanto não gostaríamos! E os rostos suaves e miudinhos mereciam que
essoutros sons destruidores num ápice desaparecessem. O quadro final, então, de
bandeiras portuguesa e ucraniana a ondular numa prece (dir-se-ia!), calou bem
fundo nos espectadores, arrancou fartos aplausos, um traiçoeiro nó se nos
apertou na garganta! Em pleno século XXI, não pode ser! Não pode ser!
Houve, após o espectáculo, as falas protocolares
– dos organizadores, do Presidente da Câmara de Cascais, do representantes da
Embaixada da Ucrânia… Agradecimentos, votos, anseios…
E saímos, em silêncio. O autocolante
que puséramos na lapela gritava PEACE, nessa língua ora universal em que,
afinal, todos acabamos por nos entender. Só quem devia é que não se entende…
Espectáculo rotário foi. Os fundos
recolhidos reverteram integralmente para as vítimas da guerra, através do RI
District 2232 da Ucrânia. E há que dar os parabéns aos organizadores porque um
espectáculo desta envergadura foi montado em pouquíssimo tempo e correu muito
bem, com um profissionalismo invejável! Que a necessidade e a urgência aguçaram
o engenho!
[Ilustrações gentilmente cedidas pelo Gabinete de Comunicação da Estoril-Sol e também retiradas da página do Facebook do Rotary Club de Oeiras].
José d’Encarnação
Publicado em Duas Linhas, 17 de Março de 2022: https://duaslinhas.pt/2022/03/a-emocao-foi-rainha-no-salao-preto-e-prata/
Lembro-me de ter lido e comentado este extraordinário texto, que descreve exaustivamente a emoção despertada pelo grandioso espectáculo no Salão Preto e Prata. Mas não vejo a minha apreciação, nem aqui nem no espaço do Duas Linhas. Em síntese do que dizia, se os desempenhos foram dignos de registo, conforme este texto no-lo certifica, a intenção de se fazer reverter o lucro para os expatriados da Ucrânia, é meritória. E sempre digna, porque faz parte do mesmo pacote de solidária atenção, a disponibilidade altruísta de quem colaborou.
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