terça-feira, 15 de março de 2022

À sombra da alfarrobeira!

            Nem sempre o tutor de bairro, em Cascais, tem apenas motivos para se queixar. Importa, aliás, em tempos conturbados, dar conta de que – lenta mas seguramente – até há benefícios de que importa usufruir. E dar a conhecer.
O Bairro da Pampilheira – de que já aqui se falou (por exemplo, na edição do dia 28, p. p.) ­– pode considerar-se privilegiado em termos de espaços verdes, ou seja, daquelas zonas aonde os vizinhos poderão ir passear, respirar e… deitar o coração ao largo.
Na sua zona ocidental, passa o Rio dos Mochos (esta, a designação popular) e houve o cuidado de limpar as suas margens, alindá-las de canteiros floridos, dotá-las de bancos e criar aí um circuito entre a Av. Raul Solnado e a Rua Gomes Leal. Um passeio a não esperdiçar e a permitir a partilha com a muita passarada que aproveita os altos pinheiros, os zambujeiros e as moitas para, inclusive, nidificar. Um nicho ecológico em boa hora devidamente salvaguardado.
Desse lado, Pampilheira ainda se prolonga para norte até à Rua Dr. António Manuel Costa Matos, ainda que à urbanização dessa rua haja sido dado o nome de Jardins de Birre. Birre é para noroeste. Nesse ângulo da Pampilheira existiram pedreiras, de que restam hoje, além das ruínas de duas serrações de pedra, os montes de terra que, ao longo de décadas, a exploração de pedra foi gerando. Já se pensou em aproveitar esse espaço para evocar essa actividade que, dos anos 40 a 70, trouxe enorme riqueza a Cascais. Por enquanto, todo esse espaço está… em repouso!
Na metade oriental da Pampilheira – onde ficam, nomeadamente, o Hospital CUF Cascais e o Centro de Distribuição Postal (ainda que venha ‘Cobre’ nos seus endereços oficiais, nem tudo pode ser perfeito…) – dois espaços atrás dos prédios da Rua Eça de Queiroz, onde se preservaram vetustos pinheiros, foram ajardinados e dotados de bancos, mesas, recipientes para lixo…
Junto à Cozinha com Alma, devido à movimentação dos moradores (recorde-se que, em tempos de António Capucho, aí se quis fazer uma escola de trânsito para a pequenada aprender as regras, a exemplo da Escola de Trânsito da Abóbada), nessa zona se conseguiu um parque infantil, dotado de minipista para as bicicletas da pequenada. Está muito bem.
Para sul, corre o Ribeiro do Cobre, que passa, pois, nas traseiras dos equipamentos colectivos para que se reservou essa área sudeste do bairro residencial: o referido hospital, o Centro de Inspecções, o Centro de Distribuição Postal, a Fábrica de Máscaras do município… É esse ribeiro que limita a Pampilheira do lugar do Cobre e do Bairro Santana. As suas margens estão habitualmente limpas; pelo leito correm, de vez em quando, líquidos que não são propriamente água das chuvas, mas o sítio é ameno, nicho de muita passarada também (há casais de periquitos africanos que por lá estacionam com frequência) e, porventura, um dia, igualmente poderá ser alvo de uma reconversão de lazer.
Há, contudo, um motivo de regozijo maior, determinante, aliás, destas considerações: é que o espaço, até não há muito tempo vago e sem préstimo, junto da Rua Fernão Lopes, entre as oficinas e os prédios, foi reabilitado. Primeiro, ali se criara mui oportuno parque de estacionamento gratuito; e agora, no espaço sobrante, fez-se o arranjo que as fotos documentam. Aplaude-se!
Talvez um que outro ponto de luz ali pudesse ter sido colocado; mas louve-se o desenho, a plantação de espécies autóctones com rega automática e, sobretudo, o realce dada às árvores aí existentes! Exacto! A mostrar que, afinal, em clima dito atlântico, temos vegetação mediterrânica aí! Mantiveram-se os carrascos, os olivões (nome que o povo dá aos oliveirões, as oliveiras bravas, não enxertadas) e… uma alfarrobeira! Quem diria? E é justamente sob ela que se colocaram dois dos bancos! Abençoados! Já no espaço arranjado a poente, por detrás da antiga padaria, se preservara uma figueira e um almecoqueiro!
Em suma: espaços para lazer não faltam (e até temos mais um, junto à Rotunda dos Bombeiros Voluntários, a espreitar os arranha-céus que do lado de lá vão crescendo…). Vamos é torcer para que não falte ânimo para deles, mui serenamente, usufruir!

                                                           José d’Encarnação

Publicado em Duas Linhas,15-03-2022: https://duaslinhas.pt/2022/03/a-sombra-da-alfarrobeira/                                             

1 comentário:

  1. Mais um belo texto que agradeço a José d´Encarnação. Talvez se possa dizer que, além de tutor do seu bairro, aqui se converte num guia perfeito para o dar a conhecer. Ao bairro e aos espaços limítrofes. De cada vez que um topónimo é referido nos seus escritos, dou-me conta da minha ignorância sobre eles. Posso até ter ouvido falar, ter rasado o espaço numa passagem acidental, mas os pormenores desconheço. É isso que lhe agradeço. Também o cumprimento pela justeza de louvar o que está bem. E já agora deixava um desafio: além de tutor não gostaria de promover uns passeios semanais para apontar esses pormenores in loco? Talvez a Câmara aceitasse a sugestão para os bairros do concelho, para que os munícipes ficassem a conhecê-los melhor e, mais próximos, os tratassem com desvelo. Não me importava de conduzir os moradores do meu bairro por aqui....

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