Nem sempre
o tutor de bairro, em Cascais, tem apenas motivos para se queixar. Importa,
aliás, em tempos conturbados, dar conta de que – lenta mas seguramente – até há
benefícios de que importa usufruir. E dar a conhecer.
O Bairro da Pampilheira – de que
já aqui se falou (por exemplo, na edição do dia 28, p. p.) – pode considerar-se privilegiado em termos
de espaços verdes, ou seja, daquelas zonas aonde os vizinhos poderão ir
passear, respirar e… deitar o coração ao largo.
Na sua zona ocidental, passa o Rio dos Mochos (esta, a designação
popular) e houve o cuidado de limpar as suas margens, alindá-las de canteiros
floridos, dotá-las de bancos e criar aí um circuito entre a Av. Raul Solnado e
a Rua Gomes Leal. Um passeio a não esperdiçar e a permitir a partilha com a
muita passarada que aproveita os altos pinheiros, os zambujeiros e as moitas
para, inclusive, nidificar. Um nicho ecológico em boa hora devidamente
salvaguardado.
Desse lado, Pampilheira ainda se prolonga para norte até à Rua Dr.
António Manuel Costa Matos, ainda que à urbanização dessa rua haja sido dado o
nome de Jardins de Birre. Birre é para noroeste. Nesse ângulo da Pampilheira existiram
pedreiras, de que restam hoje, além das ruínas de duas serrações de pedra, os
montes de terra que, ao longo de décadas, a exploração de pedra foi gerando. Já
se pensou em aproveitar esse espaço para evocar essa actividade que, dos anos
40 a 70, trouxe enorme riqueza a Cascais. Por enquanto, todo esse espaço está…
em repouso!
Na metade oriental da Pampilheira – onde ficam, nomeadamente, o Hospital
CUF Cascais e o Centro de Distribuição Postal (ainda que venha ‘Cobre’ nos seus
endereços oficiais, nem tudo pode ser perfeito…) – dois espaços atrás dos
prédios da Rua Eça de Queiroz, onde se preservaram vetustos pinheiros, foram
ajardinados e dotados de bancos, mesas, recipientes para lixo…
Junto à Cozinha com Alma, devido à movimentação dos moradores (recorde-se
que, em tempos de António Capucho, aí se quis fazer uma escola de trânsito para
a pequenada aprender as regras, a exemplo da Escola de Trânsito da Abóbada), nessa
zona se conseguiu um parque infantil, dotado de minipista para as bicicletas da
pequenada. Está muito bem.
Para sul, corre o Ribeiro do Cobre, que passa, pois, nas traseiras dos
equipamentos colectivos para que se reservou essa área sudeste do bairro
residencial: o referido hospital, o Centro de Inspecções, o Centro de Distribuição
Postal, a Fábrica de Máscaras do município… É esse ribeiro que limita a Pampilheira
do lugar do Cobre e do Bairro Santana. As suas margens estão habitualmente
limpas; pelo leito correm, de vez em quando, líquidos que não são propriamente
água das chuvas, mas o sítio é ameno, nicho de muita passarada também (há
casais de periquitos africanos que por lá estacionam com frequência) e, porventura,
um dia, igualmente poderá ser alvo de uma reconversão de lazer.
Há, contudo, um motivo de regozijo maior, determinante, aliás, destas
considerações: é que o espaço, até não há muito tempo vago e sem préstimo, junto
da Rua Fernão Lopes, entre as oficinas e os prédios, foi reabilitado. Primeiro,
ali se criara mui oportuno parque de estacionamento gratuito; e agora, no
espaço sobrante, fez-se o arranjo que as fotos documentam. Aplaude-se!
Talvez um que outro ponto de luz ali pudesse ter sido colocado; mas louve-se
o desenho, a plantação de espécies autóctones com rega automática e, sobretudo,
o realce dada às árvores aí existentes! Exacto! A mostrar que, afinal, em clima
dito atlântico, temos vegetação mediterrânica aí! Mantiveram-se os carrascos,
os olivões (nome que o povo dá aos oliveirões, as oliveiras bravas, não
enxertadas) e… uma alfarrobeira! Quem diria? E é justamente sob ela que se colocaram
dois dos bancos! Abençoados! Já no espaço arranjado a poente, por detrás da
antiga padaria, se preservara uma figueira e um almecoqueiro!
Em suma: espaços para lazer não faltam (e até temos mais um, junto à Rotunda
dos Bombeiros Voluntários, a espreitar os arranha-céus que do lado de lá vão
crescendo…). Vamos é torcer para que não falte ânimo para deles, mui
serenamente, usufruir!
José d’Encarnação
Publicado em Duas Linhas,15-03-2022: https://duaslinhas.pt/2022/03/a-sombra-da-alfarrobeira/
Mais um belo texto que agradeço a José d´Encarnação. Talvez se possa dizer que, além de tutor do seu bairro, aqui se converte num guia perfeito para o dar a conhecer. Ao bairro e aos espaços limítrofes. De cada vez que um topónimo é referido nos seus escritos, dou-me conta da minha ignorância sobre eles. Posso até ter ouvido falar, ter rasado o espaço numa passagem acidental, mas os pormenores desconheço. É isso que lhe agradeço. Também o cumprimento pela justeza de louvar o que está bem. E já agora deixava um desafio: além de tutor não gostaria de promover uns passeios semanais para apontar esses pormenores in loco? Talvez a Câmara aceitasse a sugestão para os bairros do concelho, para que os munícipes ficassem a conhecê-los melhor e, mais próximos, os tratassem com desvelo. Não me importava de conduzir os moradores do meu bairro por aqui....
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